Traduzir-se
Por Ferreira Gullar
Uma parte de mim
é todo mundo
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pensa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte –
será arte?
Juliana, obrigado por trazer à lume este poema do Ferreira Gullar!
Abraço
Só mesmo a arte para conseguir explicar a multiplicidade do eu, esses fragmentos que formam o mosaico que somos.
Vinícius e Natan, bom vê-los sempre aqui. Obrigada pela visita. ;)