Por Manuel Bandeira
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que eu nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
O poema Os Sapos do poeta pernambucano Manuel Bandeira foi o marco da abertura da Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo. Falecido em 1968, o eterno doente Bandeira tem uma poesia triste, embora leve. Na poesia, até as maiores contradições se fazem possíveis. Deixo-os com um dos poemas mais conhecidos de Bandeira, para que lembremos da nossa ilha.
Que bom ver Manuel Bandeira por aqui, meu poeta favorito.
"Não quero mais saber do lirismo que não é libertação."
Eu quero ir agora para Pasárgada! Gennial! Beijos!
Juliana, tu conheces a série de documentários: Encontro marcado com o cinema de Fernando Sabino? Tem um número da série que é com o Manuel Bandeira e no final há essa poesia genial na voz dele e ele caminhando como que se dirigindo para Pasárgada.
Abraço
Vinícius, não conheço! Vou buscar para assistir, deve ser muito bom. Valeu a dica.
Natan, ele já esteve aqui antes, ora. ;)
Adoro esse poema Ju....diria que dele é o meu favorito...