A Pasárgada de Todos Nós: Manuel Bandeira


on

6 comments

O poema Os Sapos do poeta pernambucano Manuel Bandeira foi o marco da abertura da Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo. Falecido em 1968, o eterno doente Bandeira tem uma poesia triste, embora leve. Na poesia, até as maiores contradições se fazem possíveis. Deixo-os com um dos poemas mais conhecidos de Bandeira, para que lembremos da nossa ilha.


Vou-me embora pra Pasárgada
Por Manuel Bandeira

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que eu nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

6 comments

  1. Natan
  2. Anônimo
  3. Aura Aguiar