A Tentação do Impossível


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Acordei com o gosto do estranhamento na boca. Um sentir deslocada, um estar fora do mundo, fora de mim. Dirigia – sabe Deus com que atenção – quando avistei três objetos simétricos, dançando, suspensos no ar. Pelo peso, formato, altura do voo, pareciam aviões de guerra. Acho que treinavam uma valsa, ao ritmo de três motores. Uma guerra que se faz no espaço de uma manobra, a guerra que se faz no sopro do vento: haverá poesia até na guerra?
A guerra aqui embaixo é a de todos os dias, lenta, terrível porque durável. A guerra de tentar, não conseguir, sobreviver à derrota e ter que recomeçar, dia após dia, num exercício infinito. A guerra de desejar o improvável, a tentação do impossível, como já diria o Llosa. Acho que acordei com defeito.

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