Sonhando com Doris Lessing


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Doris Lessing nasceu na Pérsia, em 1909, filha de pais britânicos. Ganhou o prêmio Nobel em 2007, ano em que a descobri, lendo as páginas de uma revista velha na sala de espera de um consultório médico. Ela foi definida pela Academia como uma exímia contadora da experiência feminina, capaz de evidenciar os conflitos, as dificuldades, as sombras que permeiam o ser mulher. Resolvi encontrar a sua escrita. O primeiro livro que li foi O Sonho mais Doce, que considero, até agora, sua maior obra. Gostaria de falar um pouquinho dele hoje. 
A personagem principal, Julia Lennox, é o fio condutor da história que retrata o sonho e a decepção de três gerações familiares. Em Londres, passamos pela primeira guerra, o interlúdio, a tragédia da segunda guerra e a grande desilusão com a experiência socialista na URSS. É um livro pesado, que nos faz refletir sobre toda a expectativa que depositamos nos sonhos coletivos de mudança política. O curioso é que a voz de Julia, ao permear toda a história, consegue ser muito intimista, suave, embora triste. Nossa leitura de domingo à noite.
“O topo de uma árvore ainda com suas folhas de verão, mesmo que já um tanto esgarçadas, brilhava: a luz de dois andares acima, vinda dos aposentos da velha, arrebatara a folhagem do escuro, lançando-a num movimento animado, quase verde: a cor era implícita. Julia estava em casa, portanto. Readmitir a sogra – a ex-sogra – nos pensamentos provocou nela uma apreensão bem familiar, devido ao peso da desaprovação que escorria pela casa, até atingi-la, e também a um outro motivo, algo do qual só se dera conta nos últimos tempos. Julia fora internada, podia ter morrido, e Frances teve de reconhecer finalmente quanto dependia dela. Supondo que não houvesse mais Julia, o que faria ela, o que fariam eles?” (DORIS LESSING, O Sonho mais Doce, Cia das Letras)

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