Tenho que confessar que acordei muito melancólica e que não tive ânimo para escrever nada para o blog até o momento. Já tinha me dado um dia de folga, quando chega um comentário anônimo perguntando se estamos em greve. Num certo sentido, sim. Ontem, enquanto dirigia para casa depois do trabalho, destruída emocionalmente, decidi várias mudanças. Provavelmente boa parte delas nunca sairá do plano da expectativa, mas uma coisa é certa: em 2012, eu preciso me dar tempo, me dar atenção, ouvir o som dos meus próprios pensamentos. Para que o dia não seja perdido, deixo um texto da poetisa portuguesa Florbela Espanca, que escreveu com intensidade que se pode imaginar sobre perda, sofrimento e toda espécie de histeria nervosa. Eu a conheci quando tinha 15 anos através de um excelente professor de literatura chamado Mário, um dos grandes responsáveis por todo o meu amor pelos livros. Um bom resto de noite a todos.
Por Florbela Espanca
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...
Amar só por amar: Aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...
Juliana, tal como ocorreu contigo por esses dias (a coincidência de um amigo ter-lhe dito o mesmo que eu, sobre o mito do Sísifo) agora ocorreu comigo (uma amiga disse-me o mesmo poema da Florbela Espanca que você postou). Como tu disseste, "coincidência ou são os ares de dezembro?" Talvez seja uma espécie de harmonia. Gosto de pensar nisso. Que seja uma harmonia. Mas agora penso em você. Na melancolia, no trânsito de automóveis e toda a cacofonia que acompanha esse trajeto. Por um instante posso estar contigo, embora seus traços não me sejam claros e nítidos, talvez pela distância e pelos anos desconhecidos em que passamos cada qual a existir uma vida desconhecida do outro. Nessa imagem distante, porém vívida pelo compasso da sensibilidade, vejo-te a ordenar as ideias e formular os planos de mudança para o ano que está por vir. Mas tento ir além – ouço uma música, talvez seja do Chico Buarque, no banco de trás há alguns livros e uma blusa para a possibilidade de esfriar. É nesse ponto que o carro pára e você desce para seguir os planos que já desenhaste na sua cabeça. Você tem a postura altiva de uma mulher resoluta, mas que não perde a sensibilidade nem o ardor apaixonado com o qual vivência o mundo. Eu paro e penso se a imagem seria essa, se não há outra, se não é um equívoco de minha parte ter desabrochado essa imagem na minha retina. Penso se devo cunhar esse comentário até o final ou se devo deixá-lo na minha memória, enquanto deixo rebentar na fibra do meu ser outras palavras. Palavras mais curtas que se desnudem em espaços curtos e em linhas concisas. E é quando eu paro e respiro novamente, meu olhar lança ao fundo sua claridade (é quando percebo que aquela mulher da imagem ficou nas linhas passadas, na grafia que já vai se alongando neste trecho de frase). Há nessa história uma outra Juliana, aquela dos planos novos, mas que conserva na essência as tonalidades virtuosas com as quais vem lapidando o próprio ser, a existência, e foi neste golpe de cinzel que ela resolveu mudar. E é para essa nova Juliana que eu deixo essas palavras. Com a certeza de que o amanhã há de ser mais radioso que esse dia de triste melancolia.
Abraço
Ju, acho que você tem um fã.
Tenho vários, ora. :P Brincadeirinha.