Falar bem sem saber a quem: Oswald de Andrade


on

3 comments

Escrever corretamente – sem erros ortográficos e gramaticais – é uma das principais qualidades que alguém pode ter. É como pentear o cabelo. Como escovar os dentes. É sempre muito triste perceber como a agilidade da internet tem formado pessoas cada vez menos preocupadas com a própria língua – e não falo de sofisticação de estilo, apenas do simples escrever sem maiores erros. O assunto me veio a mente quando li, há pouco, o poema Pronominais do brasileiro Oswald de Andrade.
Oswald foi um dos poetas à frente da Semana de Arte Moderna, em 1922, na cidade de São Paulo. O modernismo à brasileira representou, antes de tudo, um novo olhar sobre a língua. A possibilidade da literatura (e da gramática) se aproximar do português falado nas ruas, da língua do povo. Uma flexibilização refletida das regras do bom falar e do bom escrever.
Afinal, estando a comunicação preservada, vale escrever e falar errado?
Tenho que admitir meu conservadorismo: se você teve acesso ao estudo do português, não! Terminantemente não! Falar e escrever corretamente é uma obrigação quase moral. As regras gramaticais e ortográficas foram criadas para facilitar a comunicação e não para dificultá-la, isso é certo. Uma vírgula mal colocada pode dissolver casamentos. E não se enganem, esses modernistas revolucionários como Mário de Andrade só foram capazes de “criar” o modernismo porque conheciam (e muito) o português, suficientemente bem para subverter suas regras. Mas vamos ao que interessa, a poesia!


Pronominais

Por Oswald de Andrade

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro

3 comments

  1. Heloísa Araújo
  2. Adalberto Delgado