Augusto dos Anjos: A Humanidade Suja


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O paraibano Augusto dos Anjos foi um dos grandes poetas brasileiros da geração maldita de fins de século XIX, moldados à imagem e semelhança de Charles Baudelaire. Como muitos, estudou Direito, sendo diagnosticado ainda jovem com “distúrbios” de natureza nervosa. O diagnóstico da enfermidade fica por conta de Fluxo do Pensamento. Deixo-os com o célebre poema “versos íntimos”, que deve ter feito companhia a muitos na adolescência.




Versos Íntimos
Por Augusto dos Anjos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!


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  1. Ana Claudia