Literatura no Divã: Arthur Schnitzler


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Há um mês comecei a leitura do romance O Médico das Termas, do escritor austríaco Arthur Schnitzler. Durante a leitura, mudei de casa e a obra ficou duas semanas “perdida” entre as muitas caixas de livros que vieram para o novo apartamento e permanecem, ainda, intocadas. Como que por milagre, acabei encontrando acidentalmente o livro, concluído ontem à noite. Schnitzler é um escritor queridinho dos psicanalistas. Nascido em 1862, médico, contemporâneo de Freud, desenvolveu uma literatura que retrata os efeitos do inconsciente sobre os atos humanos. Há relatos de que Freud e Schnitzler conheceram-se em vida, sendo possível encontrar sua correspondência para leitura. Seu tradutor para o português afirma que alguns romances de Schnitzler poderiam ser, facilmente, relatos de casos clínicos freudianos, dada a precisão acadêmica com que constrói a profundidade psicológica de seus personagens.



No romance O Médico das Termas, o doutor Gräsler, que sempre foi assistido nos afazeres domésticos pela irmã mais velha (mãe?), solteirona, se vê desorientado pela perda inesperada de Friedericke, que se suicida. O romance se desenrola na busca de Gräsler por uma figura feminina que substitua Friedericke, onde fica evidente a sua dificuldade de criar laços afetivos. Leitura boa, de qualidade, e, apesar do tema, muito fluente. Vale conhecer!




“Sim, ela havia mencionado na noite anterior que tinha direito a uma semana de férias por ano, da qual, como se tivesse previsto alguma coisa, ela não havia feito uso durante o verão; e ele, na embriaguez dos primeiros abraços, convidara a moça a uma pequena viagem de lua de mel depois de ouvi-la...

Mas agora que ela se apresentava tão equipada, dirigindo-se a ele com as alegres palavras: “Aqui estou; se quiseres podemos ir direto à estação de trem”, alguma coisa se levantou, em atitude de defesa, dentro dele, opondo-se a essa maneira de ver alguém tomando posse de sua existência, sem mais nem menos; e ele se sentiu quase feliz ao chamar a atenção da moça para seus deveres de médico, que o obrigavam a ficar na cidade durante os próximos dias.”