Quão chato pode ser um discurso? Agora imagine que o discurso é a palavra viva de Gabriel García Márquez, seu olhar sobre a vida, sobre a literatura, sobre a amizade, pequenas lições de grandeza espiritual deste que é um papa da fantasia literária. A obra Eu não vim fazer um discurso (Record) reúne uma série de discursos proferidos por Gabo ao longo de sua vida, com uma ligeira explicação sobre cada um deles. Pra ler e gostar do começo ao fim (e aprender a fazer um discurso sem chatear)!
Num dia como o de hoje, meu mestre William Faulkner disse neste mesmo lugar: "Eu me nego a admitir o fim do homem". Não me sentiria digno de ocupar este lugar que foi dele se não tivesse a consciência plena de que, pela primeira vez desde as origens da humanidade, o desastre colossal que ele se negava a admitir há 32 anos é, hoje, nada mais que uma simples realidade científica. Diante desta realidade assombrosa, que através de todo o tempo humano deve ter parecido uma utopia, nós, os inventores de fábulas que acreditamos em tudo, nos sentimos no direito de acreditar que ainda não é demasiado tarde para nos lançarmos na criação da utopia contrária. Uma nova e arrasadora utopia da vida, onde ninguém possa decidir pelos outros até mesmo a forma de morrer, onde de verdade seja certo o amor e seja possível a felicidade, e onde as estirpes condenadas a cem anos de solidão tenham, enfim e para sempre, uma segunda oportunidade sobre a terra. ( Gabriel García Márquez, Estocolmo, 8/12/1982)
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