Pausa


on

8 comments

Acordamos. Respiramos. Constatamos que o céu continua da mesma cor, que os carros permanecem na corrida diária rumo a lugar nenhum, que o porteiro chegou às seis da manhã e agora boceja na guarita abafada. O café com gosto de pasta de dente, o relógio avisa que o tempo, inexoravelmente, está passando. Passa. Passa. Passa. Passa. O tic tac permanente, que tem permanecido desde o começo dos tempos, eu suspeito.
Um espírito completamente imprestável para a burocracia do cotidiano adormece em casa enquanto o corpo – braços, olhos, cabelos, boca – sai para o trabalho. O trabalho com suas vozes, demandas, conflitos, repousos. Até que acabe tudo, o mundo se recolha à melancolia da noite alta, e o espírito, domesticado pelo dia no silêncio da casa vazia, reencontre corpo cansado, que, enfim, volta.

                                                                                     Henri-Cartier Bresson

8 comments

  1. Anônimo