Poliamor: Temas do Judaísmo


on

No comments

Hoje tive a oportunidade de avaliar, pela manhã, duas boas monografias que versavam sobre um tema semelhante: paternidade/maternidade socioafetiva. O tema de fundo é a disciplina jurídica dos afetos. Afinal, o que faz de uma mulher ou de um homem uma mãe, um pai? A intangibilidade do amor é um tema com o que direito de família tem que tratar diariamente. A poligamia, o “poliamor”, a união estável. Lembrei de um bom livro que li há um tempo, do autor judeu A. B. Yehoshua, chamado “Viagem ao Fim do Milênio – Romance da Idade Média”, publicado no Brasil pela Cia das Letras. Eis a sinopse da editora:
 “Na passagem do milênio cristão, uma pequena caravana liderada pelo mercador Ben-Atar deixa as praias de Tânger, no norte da África, com destino a Paris, a aldeia mais próspera do reino dos francos. A bordo de um velho navio-patrulha, Ben-Atar segue acompanhado de suas duas esposas e do sócio Abu Lutfi. Os comerciantes se preparam para desembarcar mais uma preciosa carga de mercadorias, enquanto esperam ansiosos pelo encontro com o terceiro sócio, Abuláfia, que lhes fará o relatório sobre a venda das mercadorias trazidas no ano anterior. A viagem se dá num contexto histórico definido, nos primórdios do intercâmbio mercantil entre os povos separados pelo Mediterrâneo. Ben-Atar cruza o mar em busca de bons negócios, mas se defrontará com situações que vão muito além da simples troca de mercadorias. Judeu sefaradita, entrará em choque com a tradição asquenaze, para a qual a bigamia é uma prática inaceitável.
Numa recriação brilhante do mundo medieval do século X, A. B.Yehoshua traça os contornos da cultura judaica dividida por duas tradições - a asquenaze e a sefaradita - que ainda hoje demarcam afinidades e diferenças dramáticas para Israel.”

O tema de fundo é, portanto, a diversidade cultural e a tolerância. A esposa de Abuláfia não aceita o tio do marido, Ben-Atar, (muito bem) casado com duas mulheres. O empreendimento de Ben-Atar para convencer a esposa do sobrinho a retomar as relações familiares – de que dependia a própria sobrevivência das famílias de Ben-Atar – é de uma poesia e encantamento incríveis. Nos faz refletir sobre a solidariedade, sobre a diversidade do amor e dos vínculos, sobre o verdadeiro sentido de família. Afinal, não compreendem as mulheres de Ben-Atar como a esposa de Abuláfia daria conta sozinha do seu marido, sem prejuízo de seu próprio bem-estar. A literatura nos ensina que o mundo pode ser diferente. Eis o tema improvável desta segunda-feira, o "poliamor".