Explorando a livraria, encontrando Sergio Faraco


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Uma grande aflição do leitor descompromissado é a escolha da próxima leitura. Há um mundo de títulos e autores que precisam ser lidos, o tempo é pouco, as demandas da vida imensas. Então, como escolher? Uma das formas mais divertidas (e surpreendentes) de escolher é simplesmente ir à livraria como quem não quer nada e sair “garimpando” entre as prateleiras. Um passeio na sessão de literatura brasileira, uma olhadinha nos autores estrangeiros, uma busca rápida nos expositores dos livros de bolso. Nessa exploração, vale folhear, ler um pedacinho do texto (um começo ruim dificilmente o levará até o fim do livro), descobrir um pouco da biografia do autor. É possível encontrar maravilhas, sem pretensão, sem planejamento, só com paciência. Foi assim que descobri a Inês Pedrosa, de Portugal, e o seu magnífico “Nas Tuas Mãos”, topei com o angolano Pepetela e o seu “Predadores”, conheci a maravilhosa Livia Garcia-Roza e o seu “Milamor”. Livros que me marcaram, devorados num sopro, e que “descobri” ao acaso, em tardes de sábado tediosas e pouco animadoras.
Num dia desses, entre o café depois do almoço e o retorno ao trabalho, bati o olho no livro de um autor gaúcho do qual nunca tinha ouvido falar, chamado Sergio Faraco. O livro, uma coletânea de contos, se chama “A Dama do Bar Nevada: Cenas Urbanas”, publicado pela LPM Pocket, disponível em qualquer livraria com um acervo minimamente respeitável. Resultado: amor à primeira leitura! Como nunca tinha lido Sergio Faraco antes?!
Faraco, nesta obra, desenha cenas urbanas, com tipos comuns às esquinas, habitantes do metrô, senhores e senhoras de olhares tristes à espera da morte nos bares do centro. Enfim, um universo de personagens melancólicas, decadentes, perdidas em histórias sobre o cotidiano na cidade. Vale a pena ler, aos poucos, no conta-gotas, cada continho do livro. Li, gostando muito do estilo, que explora os diálogos de forma muito honesta. Deixo vocês com um trecho do Sergio Faraco, retirado do conto que dá nome ao livro.
“Na Praça da Alfândega, ao anoitecer, os velhos vão-se embora. Despedem-se uns dos outros, partem vacilantes, curvados, ombreando a solidão nas costas murchas. Ele os via pelos grandes vidros do Bar Nevada e logo já não mais, encobertos pelo avental manchado. Com licença e a garçonete o serviu como quem despeja um prato na pia da cozinha. Ele ficou olhando, assombrado: aquele era o sanduíche da casa? Tão magrinho? Pensou em reclamar, devolver, mas... e as agulhinhas? De mais a mais era preciso ter humor para não sucumbir às agruras cotidianas.” (A Dama do Bar Nevada: Cenas Urbanas, LPM Pocket, 2011, pg. 42)


                                                                                                                           Ju Diniz

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