Há semanas tenho refletido muito sobre o amor e tudo que ele traz: a saudade, o desejo, o êxtase, a alegria, a dor. Hoje gostaria de falar de um autor que adoro e que, acredito, é bastante conhecido entre os leitores brasileiros, Carlos Heitor Cony. Vivo, colunista (polêmico), Cony escreve de forma clara, direta, masculina, mas muito sensível, e sou uma grande admiradora da sua literatura. Livros como Quase Memória são dignos de várias leituras emocionadas, porque falam diretamente ao coração.
Hoje o Cony nos fala sobre a vivência da perda no amor. Quando se entende que o vínculo já se partiu, mas se tem saudade do que já foi, carinho pelos fatos vividos, pelos sentimentos guardados dentro do bolso. No Livro Antes, o verão, o personagem principal vivencia a degradação de sua casa de praia construída em Cabo Frio, que representa o seu relacionamento com a esposa. Ciente da perda que se anuncia, o verão com Maria Clara na casa é uma trégua nesse relacionamento perto do fim.
“Agora, escrevo especialmente para você. Ninguém saberá que é para você que estou escrevendo, e você mesma só sentirá isso depois de muitos, muitos dias, quando a dor e o tempo pousarem sobre seus olhos e tornarem sua carne mais neutra que a nuvem e mais breve que a espuma.
Hoje, escrevo especialmente para você, retomando um diálogo que bruscamente interrompêramos sem saber o que íamos fazer com as palavras que não chegamos a dizer, sem termos tempo de apagar as palavras que foram ditas e – infelizmente – guardadas e protegidas pelo nosso repentino ódio.
Isso poderia ser o início ou fim de um romance – e o é realmente, início e fim ao mesmo tempo. Afinal, terminamos o nosso prazo, esgotamos a clemência que atiramos um ao outro como esmola ou paga – e amanhã fecharemos essas portas e janelas e nunca mais retornaremos, nunca mais repetiremos o rito de verões e invernos que juntos consumimos, apoiados em nossos medos e redimidos em nossas alucinações.”
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