Leitura guiada: Vale?


on

5 comments

Afinal, pode o leitor descompromissado ser guiado? O leitor descompromissado é aquele que tem a literatura não por profissão, mas por deleite estético, por passatempo, por hobby, por prazer. É aquele que não está obrigado a ler e, se o faz, busca alguma forma de crescimento (ainda que o simples passar do tempo) espiritual. Esse leitor específico pode ser guiado no seu contato com a literatura?

Vamos imaginar o leitor estudante (a literatura que se lê na escola) ou o leitor profissional (o crítico, o escritor, o pesquisador). Esses, por princípio, têm contato com a literatura a partir de um método de análise específico, definido a partir do objetivo a ser atingido: se quero associar o movimento histórico do barroco ao que se produziu na época, o essencial é ir a autores específicos como Gregório de Matos, por exemplo. Se pretendo pesquisar a gênese do processo criativo de Mário de Andrade, a minha leitura de Macunaíma será rigorosamente delimitada pela análise de sua criação – influências, referências, comparações. O leitor compromissado não só precisa, como deve ser guiado para que o resultado final, seja o aprendizado, ou a produção científica, sejam bem sucedidos.
O leitor por prazer pode se dar ao luxo de não ter limites: pode ler quando e se quiser, o que quiser, no ritmo que desejar. No mais das vezes, a escolha do caminho da leitura, a sequência dos textos, a própria pausa entre uma obra e outra, é algo penoso. Para esse leitor, um guia de leitura pode ser uma boa saída. Uma boa indicação para a literatura estrangeira é o Harold Bloom, crítico literário autor do bom Como e Por que Ler. Nessa obra, Bloom chama atenção para romances, peças teatrais e poemas canônicos da literatura universal, ressaltando aspectos biográficos e estilísticos dos autores que podem tornar a leitura mais profunda (e mais atrativa). Se o objetivo é tornar a literatura um hábito diário, algo sistemático, prazeroso e edificante, acho que o acesso (comedido) aos críticos pode ser uma boa saída, desde que compreenda essa verdade: no espaço entre o leitor e o livro, não existem limitações ou regras de comportamentos. Leitor, revolte-se!

“Uma das funções da leitura é nos preparar para uma transformação, e a transformação final tem caráter universal”
 Harold Bloom

5 comments