O fim de ano, o ar de conclusão que vem com dezembro, as esperanças que se anunciam em janeiro, deixam cada um de nós um pouco melancólicos. Há os que tomam decisões extremas, há os que se recolhem, como ostra, esquecidos ao próprio sofrimento, há os que leem poesia e esperam encontrar algum consolo nas palavras do poeta. Triste é quando a poesia é bela, mas igualmente melancólica. Gostaria de seguir o conselho do André-Comte Sponville e conseguir amar, desesperadamente, isto é, amar sem esperar nada, amar simplesmente, puro contentamento. Amor também é falta. Deixo-os com a linda Cantiga de Viúvo.
Cantiga de Viúvo
Carlos Drummond de Andrade
A noite caiu na minh’alma,
fiquei triste sem querer.
Uma sombra veio vindo,
veio vindo, me abraçou.
Era a sombra de meu bem
que morreu há tanto tempo.
Me abraçou com tanto amor
me apertou com tanto fogo
me beijou, me consolou.
Depois riu devagarinho,
me disse adeus com a cabeça
e saiu. Fechou a porta.
Ouvi seus passos na escada.
Depois mais nada...
acabou.
l'amour est désir et le désir est manque.. :)
Fato, Mariana. Este ideal de amor desinteressado me parece tão pouco humano!
Penso que o amor age como se imperasse sobre os demais sentimentos, mas não de uma forma que faça dos outros seus súditos, e, sim, seus companheiros. Ele sabe conviver na harmonia e na falta dela. Quem ama tem o coração vez por outra pequeno, ora dilacerado, ora morno, ora calmo, ora frio. É uma felicidade sentí-lo nas estações que nos trazem realização interior. Mas quando não se aceita a oscilação acaba-se, pouco a pouco, perdendo a capacidade de sentir.
O único sentimento que o amor não convive é com a indiferença. Quando não se sabe acolher a sutil cumplicidade que há entre o amor e "os seus mais difíceis" - a dor, a perda, a decepção, a frustração... -, após tanto querer "tapar-e-não-ver", acho que se chega a um estágio de desistência. E acho que não é a gente quem desiste de amar. É o amor que desiste de pulsar na gente.
Juliana, seu blog é lindo! Adorei esse poema de Drummond, tão pungente e tão bonito! Estarei sempre por aqui acompanhando as novidades! Um beijo. Karina
Lívia, você acha mesmo que o amor desiste da gente? Só acho que tem gente muito medrosa, muito sofrida, que prefere não arriscar um amor novo. O problema é que ele nasce, independente da prudência. Lindas palavras.
Karina, eu também adorei o seu blog. Tenho ido sempre! Um beijão.