Hilda Hilst não é uma poetisa fácil. Esse poema, apesar de um pouco hermético, é muito bonito, especialmente a última estrofe. A imagem do amante tateando o corpo que desfalece e deixará de existir (em breve) como objeto de atenção é dolorida, mas verdadeira. Sempre voltando aos mesmos temas, sempre presa a divagações sobre o amor. Hilda Hilst nasceu em São Paulo, no ano de 1930, e partiu em 2004. Escreveu poesia, prosa e teatro. Vivia recolhida em uma simpática casa de campo, alheia à “confraternização diária” da cidade grande.
Por Hilda Hilst
Tateio. A fronte. O braço. O ombro.
O fundo sortilégio da omoplata.
Matéria-menina a tua fronte e eu
Madurez, ausência nos teus claros
Guardados.
O fundo sortilégio da omoplata.
Matéria-menina a tua fronte e eu
Madurez, ausência nos teus claros
Guardados.
Ai, ai de mim. Enquanto caminhas
Em lúcida altivez, eu já sou o passado.
Esta fronte que é minha, prodigiosa
De núpcias e caminho
É tão diversa da tua fronte descuidada.
Tateio. E a um só tempo vivo
E vou morrendo. Entre terra e água
Meu existir anfíbio. Passeia
Sobre mim, amor, e colhe o que me resta:
Noturno girassol. Rama secreta.
(In Júbilo, Memória e Noviciado da Paixão)
Da Hilda, eu conheço pouquissímo. Isso é uma vergonha. É uma poetisa a qual eu deveria conhecer melhor. Um poema cheio de imagens, onde o tato vai-lhe desnudando a forma e juntamente vai-se desligando a alma, como que se despreendendo de si mesma para habitar o outro. É lindo.
Abraço
Hilda é minha maior paixão literária. E ando aprendendo a transformar esse amor em pesquisa.
Que bom saber que há mais gente que a ama e reconhece. =)
bem que eu podia conhecer um pouco sobre minha xará, né, ju?! ;)
Vinícius, realmente não é uma poetisa que você possa dizer que "conheça". É até pretensioso dizer isso, a cada leitura capta-se uma nova face. É realmente fantástica. Abraço
Amanda, precisamos aprender a amar mais as pratas da casa, né? Seja bem-vinda. Abraço.
Hildinha, só lembrei de ti, amiga. Deu saudade. Beijo.
Ju, gosto da Hilda dramaturga, do modo como ela brinca com o escracho da condição humana nos textos para os palcos. Tive a oportunidade de conhecer um grupo de teatro carioca chamado "Alice 118" que faz um trabalho sensacional sobre o universo provocativo dela, como por exemplo se pode ver na peça experimental "Potlatch". Enfim, seja na poesia, na ficção ou no teatro, Hilda Hirst nos mostra o quanto é impossível movermos-nos de nós mesmos, "ainda que se mova o trem". Cá estou, passando por aqui, de novo. Abraço,
Paulo, eu não conheço o trabalho dela na dramaturgia. Ontem tentei dar uma lida, mas senti muito estranhamento. É isso mesmo? Beijo! Venha sempre aqui que estou com saudades suas.