Muitas vezes, na loucura do cotidiano, não temos tempo para dedicar à leitura de romances, de grandes ensaios, ou daquela epopeia. Sempre é bom ter à mão um livro de textos curtos e leves, para ler nos intervalos do dia, algumas linhas, poucas páginas, só para o espírito não se sentir tão vazio de significados. A crônica cumpre muito bem esse papel, sendo um gênero literário tipicamente brasileiro. Segundo o Aurélio, a crônica se define como “pequeno conto, de enredo indeterminado” ou “texto jornalístico de forma livre e pessoal”. Muitos dos nossos escritores consagrados tinham como atividade diária ou semanal o compromisso de publicar nos grandes veículos de circulação sua crônica sobre o cotidiano.
Hoje deixo a dica de algumas coletâneas de crônicas que podem servir de começo para esse hábito diário de leitura.
Boca de Luar, Carlos Drummond de Andrade, Record, 2009
Não preciso de qualquer descrição, é gênio.
- Você tem boca de luar, disse o rapaz para a namorada, e a namorada riu, perguntou ao rapaz que espécie de boca é essa, o rapaz respondeu que é uma boca toda enluarada, de dentes muito alvos e leitosos, entende?
Em Boa Companhia: Crônicas, coletânea de vários autores publicada pela Cia das Letras, com seleção de Humberto Werneck, ótima opção para quem quer conhecer os melhores cronistas a partir de uma seleção organizada por ordem cronológica.
O Conde e o Passarinho, Rubem Braga, Record, 2002
Rubem Braga é considerado o maior cronista da história da literatura brasileira e pode-se dizer que ele dedicou sua carreira literária a esse gênero. Seus textos versam sobre temas diversificados como o amor, a corrupção, a saudade, o cotidiano. Nesta coletânea específica, recomendo a crônica que dá nome ao livro, chamada “O Conde e o Passarinho”, que é de uma delicadeza encantadora.
As Melhores Crônicas, Fernando Sabino, Record, 1997
Fernando Sabino é um dos poucos escritores que eu considero “certos”, isto é, incapazes de publicar qualquer coisa que não seja de boa qualidade. Além de romancista, foi um exímio cronista, e recomendo todas as coletâneas editadas pela editora Record.
Sabino é rei aqui em casa.