No texto “Divagação sobre as ilhas”, Drummond inicia com as seguintes palavras:
“Quando me acontecer alguma pecúnia, passante de um milhão de cruzeiros, compro uma ilha; não muito longe do litoral, que o litoral faz falta; nem tão perto, também, que de lá possa eu aspirar a fumaça e a graxa do porto. Minha ilha (e só de pensar já me considero seu habitante) ficará no justo ponto de latitude e longitude que, pondo-me a coberto de ventos, sereias e pestes, nem me afaste demasiado dos homens nem me obrigue a praticá-los diuturnamente. Porque esta é a ciência e, direito, a arte do bem viver; uma fuga relativa, e uma não muito estouvada confraternização”.
Para o poeta, todo homem tem – e precisa – de uma ilha, e até os fanáticos políticos e religiosos a têm, porque é a fuga que permite nossa vivência do cotidiano, sempre tão pobre em emoções e cheio de demandas. Fiquei pensando sobre qual seria minha ilha, uma ilha povoada por Drummonds, Gabos, Bandeiras, Quintanas, Cecílias. Uma ilha onde sonhar não fosse privilégio do ócio e repousar fosse uma exigência do espírito.
“Em geral, não se pedem companheiros, mas cúmplices. E este é o risco da convivência ideológica. Por outro lado, há certo gosto em pensar sozinho. É ato individual, como nascer e morrer.
Passeios na Ilha, do Carlos Drummond de Andrade, foi reeditado este ano pela Cosac Naify.
Pode MORAR na ilha e vir ao "continente" só de vez em quando?!
Aí não seria uma ilha, professor, seria a sua casa. A ilha pode perder você. :) Fique.
"No man is an island entire of itself".
E como fica John Donne?
Ótima lembrança. A ilha é apenas um repouso, uma trégua, mas Donne tem razão, ninguém se basta. O próprio Drummond chamava atenção para necessidade de confraternizar. Só não precisava ser "diuturnamente".
Muito bom! Simples e completo!