Você já se imaginou lendo teatro grego antigo para relaxar no final de semana? Querido leitor, reveja seus conceitos! A comédia grega pode ser, sim, divertidíssima, leve e profunda nas reflexões sobre os valores e os papeis sociais. Como o tema de fundo, hoje, é o corpo e o desejo sexual, lembrei de Aristófanes e a sua Lisístrata – A Greve do Sexo. Aristófanes foi um dramaturgo grego que utilizava a comédia e a ironia como forma de provocar uma crítica à sociedade de sua época. É de sua autoria As Vespas e As Nuvens, esta última tendo ninguém menos que Sócrates como personagem.
Na obra Lisístrata: A Greve do Sexo, tem-se a utilização do sexo como arma de gênero. Explico: os homens, numa guerra demorada, ameaçam levar Atenas à completa decadência. Lisístrata lidera uma greve de mulheres, que consiste, exatamente, na recusa em atender a qualquer tipo de demanda sexual de seus maridos até que cheguem à paz. Divirtam-se com o desespero dos pobres atenienses e com a – esperada – decisão de por fim à guerra. A tradução para o português é de Millôr Fernandes, publicada pela LPM Pocket.
CENA
No primeiro plano, de um lado a casa de Lisístrata,
do outro a de Cleonice. Ao fundo, a Acrópole.
Um caminho estreito e cheio de curvas
conduz até lá. No meio dos rochedos, em segundo
plano, a gruta de Pã. Lisístrata anda
pra lá e pra cá, diante da casa.
LISÍSTRATA – Pois é. Se tivessem sido convidadas
para uma festa de Baco isso daqui estaria
intransitável de mulheres e tamborins. Mas,
como eu disse que a coisa era séria, nenhuma
apareceu até agora. Só pensam em bacanais.
Hei, Cleonice! Bom-dia, Cleonice!
CLEONICE – Bom-dia, Lisístrata. Magnífico dia
para uma bacanal.
LISÍSTRATA – Cleonice, pelo amor de Zeus:
Baco já deve andar cansado.
CLEONICE – Que aconteceu, boa vizinha? Tens
a expressão sombria, um olhar cheio de repreensão,
a testa franzida. O avesso de uma máscara
de beleza.
LISÍSTRATA – Oh, Cleonice, meu coração está
cheio de despeito. Me envergonho de ser mulher.
Sou obrigada a dar razão aos homens,
quando nos tratam como objetos, boas apenas
para os prazeres do leito.
CLEONICE – E às vezes nem isso. Cibele, por
exemplo...
LISÍSTRATA – (Repreensiva.) Por favor, Cleonice.
(Pausa.) Não é hora para maledicências.
(Pausa.) No momento em que foram convocadas
para uma decisão definitiva na vida do
país, preferem ficar na cama em vez de atender
aos interesses da comunidade.
CLEONICE – Calma, Lisinha! Você sabe como
é difícil para as donas-de-casa se livrarem dos
compromissos domésticos. Uma tem que ir ao
mercado, outra leva o filho à academia, uma
terceira luta com a escrava preguiçosa que às
6 da manhã ainda não levantou. Sem falar no
tempo que se perde limpando o traseiro irresponsável
das crianças.
LISÍSTRATA – Mas eu avisei que deixassem
tudo. A coisa aqui é muito mais urgente. Muito
maior.
CLEONICE – Tão grande assim?
LISÍSTRATA – Acho que nenhuma de nós jamais
encarou nada tão grande. Ou nos reunimos e
enfrentamos juntas ou ela nos devora.
CLEONICE – Mas, então, se você mostrou a elas
a exata dimensão da coisa, não compreendo
que não tenham vindo logo correndo, todas!
Gostei ! muito interessante...
o meu xará tem boas histórias para contar !
=D
Muito bom esse resumo, tinha que fazer um trabalho da faculdade, e me ajudou muito....além de essa obra me parecer divertidíssima
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