Estação Saudade: A Triste História de Eva e Álvaro


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          I – A Espera...

Eva sentou no banco enferrujado, que já fora verde claro, agora uma lembrança de verde enegrecida pelas marcas avermelhadas. Um banco suspenso por duas correntes, que balançava suavemente conforme o movimento do corpo e do vento. Não havia ninguém àquela hora. Não passaria trem. Estava frio. Um ar de outono, gélido, apesar do sol, a terra recoberta por folhagens secas. À beira da estrada, sentada naquele banco esquecido numa estação ferroviária, Eva pensou que era curioso que a estação chamasse Saudade. Lugar onde se habita, só ou acompanhado.
            Esperou a chegada de Álvaro por uma hora, talvez duas. Esquecera o relógio de pulso, e a grande torre da estação não despertava o seu interesse. Esquecida aos próprios pensamentos, Eva bordava retalhos de lembranças, construídos de vozes, papeis e ausências. Não veio. Sem surpresas ou sobressaltos. Eva sabia da covardia de Álvaro, de seu medo das palpitações, quando à beira do abismo. Certa vez, já lhe dissera, muito triste:
            - Não é possível voltar, Álvaro. Nós já caímos.
            Álvaro rira. Não havia abismo, não havia riscos, só a certeza de que a entrega podia ser controlada pela vontade. Eva lera Stendhal, acreditava que no amor não há vontade, só desejo. E Eva amava. Amada? Uma dúvida que percorria o mostrador das horas junto com os ponteiros, reencontrados, no fundo da gaveta da cômoda, já em casa. Álvaro não fora. Eva dormiria sozinha, mais uma noite, mais uma vida, acompanhada de seus silêncios.

Por Juliana Diniz

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