Adélia Prado: Uma Voz Feminina na Literatura Brasileira


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Comecei o ano descobrindo a prosa de Adélia Prado, que, por algum motivo insondável, nunca calhou de aparecer na minha vida. Mas eis que, na última sexta-feira, de passagem pela livraria, recolhi todos os livros disponíveis da autora e escolhi uma obra, um pouco a esmo, com o único propósito de ter um contato com a sua escrita. O eleito foi Os Componentes da Banda, publicado pela primeira vez em 1984 e reeditado pela Editora Record. O livro é complexo, embora a leitura não seja pesada. Explico: não há uma narrativa linear, uma sucessão de fatos encadeados pela voz do texto. É um fluxo de pensamento, uma tempestade de ideias de uma mulher de meia-idade, classe média, interior de Minas, bem goiabada com queijo. Apesar disso, a profundidade dos conflitos (muito femininos) vividos por Violeta me fizeram pensar em Clarice Lispector. Acho que os amantes de Clarice vão adorar Adélia Prado. Recomendo!



“Pode ter querido dizer, o meu adorado Jonathan, que vai ser bom o Juízo Final, porque no céu não haverá casamento, mas a única das três virtudes que reinará absoluta será a caridade, cujo apelido é amor. Então, bom, então é claro que ele, muito arianamente, me confessou o seu amor; seu pensamento secreto sobre mim. Mais que nunca desejo a guerra atômica, meu amor por Jonathan é infenso à radiação. O mundo vai pelos ares e me sento na frente dele, trêmula, pra escutar ele dizer com a boca, a língua, os dentes dele: eu te amo. Só depois quero ver a face de Deus. Está é a coisa mais corajosa que consegui até hoje articular. Deus me perdoe.” (PRADO, Adélia. Os Componentes da Banda, pg. 115)