Outono da Alma: Pablo Neruda


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Quando tudo parece perdido, apenas o  poeta chileno Pablo Neruda pode nos salvar!  Lindo poema retirado da obra Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada. Boa terça-feira a todos.




Recordo-te como eras no derradeiro outono.

Eras a boina gris e o coração em calma.

Nos teus olhos lutavam as chamas do crepúsculo.

E caíam as folhas em água de tua alma.



Aos meus braços colada qual uma trepadeira,

as folhas recolhiam tua voz úmida e em calma.

Oh fogueira de pasmo em que ardeu minha sede.

Doce jacinto azul torcido na minha alma.



Sinto o viajar dos olhos teus e é longe o outono:

boina gris, voz de pássaro e coração de casa,

para onde emigravam meus profundos anseios

e caíam meus beijos alegres como brasas.



Céu, visto de um navio. Campo, visto do monte.

Tua lembrança é de luz, de fumo e lago em calma!

No fundo de teus olhos ardiam os crepúsculos.

Folhas secas de outono giravam na tua alma.