Hoje
trago o trecho de um conto do escritor uruguaio Ángel Rama, chamado Sobre a costa (in: Terra sem Mapa, editora Grua). Decidi compartilhar essas palavras
porque nos últimos dias tenho tido muita vontade de ir à praia, ficar à toa, ouvindo
o mar e sentindo o ar das férias. Boa quarta-feira a todos!
“Mas esse animal existe? Chama-se mar e não
há dúvida de que é um campo que alguém lavra lá de baixo com movimentos
constantes. Há dias em que ele vem de longe para se meter entre duas montanhas,
com tal força que entra no rio por onde não cabe e brama logo em seguida como
um potro no cio.
Enquanto Lina desce por entre a encosta
abrupta do rio seguindo os passos de Ramón, mais que a extensão do mar,
assusta-a o zumbido que enche o espaço aberto debaixo do céu claro e o aroma
que dali chega e a excita de um modo obscuro.
[...]
Dissipou-se a desconfiança de Lina. Já não
olha o alto mar, nem a abrupta caída da montanha; agora avança a poucos passos
da margem, contemplando os desenhos que a onda traça quando deposita a ressaca
espumosa. Esse vaivém a deslumbra, e, quando a onda retorna sugada pelo mar,
sente que também puxa a ela, que em vão tenta afastar-se.”
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