Nefelibatas e Lunáticos: Cyrano de Bergerac


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De vez em quando bate um cansaço tão grande do mundo e das gentes que a vontade é de passar uma temporada em terras mais distantes. Como a lua é sempre um dos destinos hipotéticos dos que não estão na órbita do cotidiano, deixo o trechinho da obra Viagem à Lua, de Cyrano de Bergerac (tradução de Fulvia Moretto, edições Globo), como inspiração pré-feriado. Aproveitem bem o dia de amanhã!



“Era lua cheia, o céu estava claro, e haviam soado nove horas da noite quando voltávamos de uma casa próxima a Paris, quatro amigos e eu. Os diversos pensamentos que nos provocaram a visão daquela bola de açafrão nos entretiveram no caminho. Com os olhos mergulhados naquele grande astro, ora um de nós o tomava por uma lucarna do céu, através da qual entrevíamos a glória dos bem-aventurados, ora um outro protestava que era a platina em que Diana prepara as voltas de Apolo, ora outro exclamava que poderia perfeitamente ser o próprio Sol que, tendo à noite se despojado de seus raios, olhava através de um buraco o que se fazendo no mundo quando ele lá não mais estava.

‘E eu’, disse, ‘que desejo misturar meu entusiasmo ao vosso, creio, sem me deter nas imaginações desabridas com o que estimulai o tempo para fazê-lo avançar mais depressa, que a Lua é um mundo como este, ao qual o nosso serve de lua.”