Ferreira
Gullar, além de poeta, é um grande crítico de arte e tem escritos muito lúcidos
sobre estética que valem a leitura atenta. Gullar elucida questões como
vanguarda, arte-conceitual e todas as falácias relacionadas ao emprego desses
termos, ao nos alertar que existe, sim, o belo e o seu oposto em arte, e que nem toda
crítica ao novo é necessariamente “passadista”. Para quem se interessar, é
muito boa a leitura do livro de Gullar chamado Sobre arte, sobre poesia (Uma luz no chão), publicado pela José
Olympio. O texto abaixo me fez lembrar um autoproclamado poeta cearense que,
certa vez, num café cheio de ouvintes deslumbrados, apresentou uma ideia
brilhante por ele concebida: um artigo de uma revista literária que foi
apresentado em branco, com os seguintes dizeres “este espaço estava reservado
para fulano de tal, mas ele não apareceu”. Genial, não é? A literatura que é
não literatura.
“Como se pode concluir do que foi dito,
deu-se uma inversão de valores no âmbito da avaliação e mesmo da concepção
artística, já que a obra deixou de impor-se pelas qualidades estéticas, por sua
execução, por sua complexidade, pela adequação da forma e conteúdo, para valer
apenas pelo que trazia de “novo” e que, na maioria das vezes, limitava-se à
busca deliberada do extravagante e do diferente. Não é difícil adivinhar que
tal concepção conduziria fatalmente à desintegração das linguagens artísticas e
a um vale-tudo que eliminava qualquer avaliação objetiva”. (GULLAR,
F. Sobre arte, sobre poesia (uma luz no
chão), José Olympio, pg. 14)
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