Terça-feira
pode ser um dia para delicadezas literárias. Nada melhor que uma crônica do
Rubem Braga, chamada O Conde e o
Passarinho, publicada na obra homônima.
“Devo confessar preliminarmente que, entre
um conde e um passarinho, prefiro um passarinho. Torço pelo passarinho. Não é
por nada. Nem sei mesmo explicar essa preferência. Afinal de contas, um
passarinho canta e voa. O conde não sabe gorjear nem voar. O conde gorjeia com
apitos de usinas, barulheiras enormes, de fábricas espalhadas pelo Brasil,
vozes dos operários, dos teares, das máquinas de aço e de carne que trabalham
para o conde. O conde gorjeia com o dinheiro que entra e sai de seus cofres, o
conde é um industrial, e o conde é conde porque é industrial. O passarinho não
é industrial, não é conde, não tem fábricas. Tem um ninho, sabe cantar, sabe
voar, é apenas um passarinho e isso é gentil, ser um passarinho”.
Postar um comentário