Segunda
à noite, apesar da fadiga ocular que desenvolvi nas duas últimas semanas,
precisava muito ler algo bom e fui vasculhar as prateleiras de casa em busca de
algum livro que não tivesse lido ainda, dos que vieram morar comigo quando
casei. Escolhi Um Jogador, do grande
escritor russo Fiódor Dostoiévski, traduzido do russo por Boris Schnaiderman
para a Editora 34. Foi uma escolha iluminada, o livro é absolutamente
primoroso e não pude largá-lo desde então. A história do protagonista-narrador, Aleksiéi Ivânovitch, passa-se
numa pequena cidade alemã, apresentada como uma Estação das Águas, espécie de cidade-spa para aristocráticos ricos
fugirem do inverno rigoroso. Aleksiéi é preceptor de uma família de nobres russos,
à beira da falência, que espera ansiosamente pela morte da tia rica para que herança
possa salvá-los da miséria. A relação que se desenvolve entre o narrador e os
demais personagens é ricamente descrita por Dostoiévksi, com ironia e superioridade
de espírito: a trama que se desenvolve é como uma grande comédia a que Aleksiéi
tem o prazer de observar de perto. Segundo Fluxo do Pensamento me disse,
Aleksiéi está em pleno episódio maníaco, materializado no descontrole emocional
manifesto pelo narrador quando está à mesa do jogo. Grande leitura!
“Sei muito bem que não sou avarento; creio
mesmo que sou perdulário; e, no entanto, com que tremor ouço, de coração
opresso, os gritos do crupiê: trente et um, rouge, impair et passe; ou: quatre,
noit, pair et manque! Com que avidez olho para a mesa de jogo, em que estão
espalhados friedrichsors e táleres; para as pilhas de ouro, que quando trocadas
pela pazinha do crupiê se espalham em montículos luzentes como brasas, ou,
então, para as rumas de prata, do comprimento de um archin, jazendo em torno da
roda. Quando ainda me aproximo da sala de jogo e ouço, a uma distância de duas
salas, o tinir das moedas, quase chego a ter convulsões”.
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