Poucas
coisas são tão perigosas quanto um prefácio. Se bem escrito, o texto
introdutório pode ajudar o leitor a compreender melhor a obra e o seu autor,
ambientando-o nas temáticas que se vai encontrar ao longo do percurso e
apresentando algumas referências culturais necessárias à compreensão do texto.
Se mal escrito, o prefácio pode desestimular o leitor, introduzir preconceitos,
antecipar a emoção que só a leitura da própria obra deveria provocar.
Resolvi
escrever este post por conta de um péssimo prefácio que me impediu de ler o
romance A Mulher de Trinta Anos de
Honoré de Balzac na adolescência. O prefácio de autoria de Philippe Bertier,
intitulado “Deus Escreve Certo por Linhas Tortas”, começa com as seguintes
palavras: “os defeitos de A Mulher de
Trinta Anos saltam aos olhos e já foram por demais salientados para que neles nos
detenhamos”. Ao ler o começo do romance, não deu outra, não consegui concentrar
na leitura, só pensando que a obra é “defeituosa” e lembrando o prefácio. Hoje,
resolvi recomeçar com o livro, comprando uma nova edição, publicada pela
Editora Estação Liberdade, a fim de esquecer o passado. Eis que lá estava o
maldito texto de Bertier assombrando a minha leitura. Passei adiante, esquecendo
a análise crítica do francês e indo direto ao texto de Balzac. Quando acabar,
digo a vocês o que me pareceu o romance e se as palavras de Bertier são, de
fato, justas.
Amigos
leitores, muito cuidado com os prefácios, pois eles podem ser os maiores
inimigos da leitura! O melhor é deixar para ler o prefácio depois e tomar as suas
próprias decisões sobre a qualidade do texto.
Eu tenho uma regra: só leio o prefácio depois que acabo o livro.
Cansei de ler prefácios que revelam detalhes da trama que tiram a graça da descoberta.
Todo prefácio devia ser posfácio.