A Carta do Coronel: García Márquez

mai
2012
08

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Gabriel García Márquez constrói suas obras a partir de um leque de personagens e locais que dialogam entre si, criando um mundo fantástico particular, mas profundamente marcado pelas cores da América Latina. A cidade de Macondo, por exemplo, inspirada em sua terra natal, está presente em diversas obras, ainda que só como uma referência mítica, assim como o coronel Aureliano Buendía, personagem de Cem Anos de Solidão. Esta semana tive a oportunidade de ler uma das obras de estreia do escritor, Ninguém escreve ao coronel, escrita nos seus vinte e poucos anos. Na história, o Coronel é coadjuvante de um personagem peculiar: um galo de rinha, que determina todo o desenrolar dos fatos. Após a morte de seu filho por questões políticas, o Coronel, em condições de pobreza extrema, passa a cuidar do galo de seu filho morto, a fim de apresentá-lo a uma disputa para dali a um ano. A motivação é moral: o filho foi alvejado numa rinha, com o galo debaixo do braço, quando preparava para disputar.


A história é comovente e o estilo que o escritor maduro levaria à perfeição já está presente: uma prosa direta, fluente, a perfeita descrição da miséria do mundo latino em sua burocracia e política. Como só é permitido a um personagem de Gabriel fazer, o Coronel espera uma carta há quinze anos e semanalmente vai até o posto de correspondência, com precisão de relógio, esperar pela bendita carta. Vale a leitura!



“O administrador entregou-lhe a correspondência. Tornou a colocar o resto na sacola, fechando-a. O médico dispôs-se a ler as cartas pessoais. Antes de abrir um envelope, porém, olhou para o Coronel. Depois para o administrador.
            - Nada para o Coronel?
            Este sentiu o terror. O funcionário atirou a sacola ao ombro, desceu o embarcadouro e respondeu sem voltar a cabeça:
            - Ninguém escreve ao Coronel.” (pg.35, 2011)