O
escritor turco Orhan Pamuk ganhou o prêmio Nobel de literatura em 2006. Autor
do célebre romance Neve, Pamuk é dono
de uma prosa muito elegante, sofisticada, apesar de simples, além de ótimo
ensaísta. Daqueles escritores que parecem “conversar” com quem os lê. O romance
de estreia do autor foi O Castelo Branco,
publicado no Brasil pela editora Companhia das Letras, responsável pela
tradução de Pamuk para o português. Passei a semana acompanhada da história,
que se passa no século XVII e narra o aprisionamento de um estudioso italiano
por uma esquadra turca. O narrador-personagem torna-se escravo e, graças aos
seus conhecimentos sobre ciência, é dado de presente pelo Paxá a Hoja, astrônomo e estudioso respeitado
pela aristocracia de Istambul. O romance é, basicamente, um retrato da relação
entre os dois, o cristão e o turco, a relação de duas culturas, o conflito
entre universalidade e localidade: o que atormenta Hoja é saber, afinal, se os “outros” – no caso, os cristãos –
sofrem, pecam, vivem como os fiéis. Um livro bastante comovente, que recomendo
a todos que gostam de um bom romance histórico. Para tempos de diálogos inter-raciais.
“E finalmente chegamos a um ponto onde se
via o castelo. Erguia-se no alto de um morro bem elevado; a luz enviesada do
sol poente tingia de um vermelho desbotado os estandartes hasteados nas suas
torres. E era branco; imaculado e belo. E não sei por que me ocorreu que só em
sonho se poderia imaginar uma coisa tão linda e inacessível. Nesse sonho,
você sobe por uma vereda sinuosa que atravessa uma floresta densa, correndo
para tentar alcançar aquela massa de luz cegante erguida no topo, aquele
edifício de marfim; como se ali o esperassem prazeres que você não quer perder,
uma oportunidade de ser feliz que não quer deixar acabar.”
(PAMUK, Orhan. O Castelo Branco, Cia
das Letras, 2007, pg 177)
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