Dá-me tua mão, companheiro!


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O mineiro Carlos Drummond de Andrade é autor de uma obra poética que se divide em várias fases, identificadas com a própria conquista da maturidade intelectual e emocional do poeta. Na década de 40 do século XX, o mundo vivia a grande tragédia da guerra, e as questões sociais não ficaram alheias à percepção do autor. O poema que trago hoje, célebre e emocionado, é inserido nesse período em que Carlos diz precisar dos homens, em que todos devem dar as mãos, num ato de solidariedade. O poeta se afasta do lirismo dos amores e das intimidades do espírito e se engaja na luta social. Uma boa quarta-feira a todos!



Mãos Dadas
Carlos Drummond de Andrade

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, do tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.