Torpor de Domingo: Sobre o Esporte e o Prazer


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É domingo, são nove horas da noite, e estou assistindo a um jogo do Masters de Indian Wells, tradicional torneio de tênis americano, entre o argentino Nalbandian e o croata Cilic, depois de ter assistido – meio dormindo, meio acordada – ao emocionante jogo entre Bolonha e Lazio. Domingo, na minha vida, desde 2010, é um dia associado ao esporte, à relaxante rotina de acompanhar uma programação tão previsível quanto segura, que começa com o futebol e termina com algum esporte não tão popular como tênis, rugby, vôlei, futebol americano, NBA e até MMA, se for o que restar. Tenho a absoluta certeza que não sou a única a ter o costume de me prostrar na frente da TV e esse hábito – que me traz tanto conforto no meu final de semana – sempre foi algo incompreendido por amigos, alunos e marido. Hoje a literatura, por uma coincidência, deu aos mãos ao esporte, e explico porquê.

Mais cedo, durante uma caça à leitura na livraria, decidi comprar o último volume da GRANTA publicado no Brasil, cujo tema é o Trabalho. Essa ótima revista, publicada em vários países pela Alfaguara, reúne textos de vários bons autores com mesmo tema gerador, como o Sexo, a Família, entre outros. Um dos textos, de autoria de Aleksandar Hemon, chamou de imediato a atenção:  Se Deus existisse, seria um meia de primeira. A narrativa enfoca o papel do futebol e do esporte na vida de um refugiado bósnio dos Estados Unidos, como prática que o permitiu continuar sua nova vida com alguma lembrança da rotina deixada para trás. Por que o esporte mexe tanto com as pessoas?

Quando assistimos ao jogo, o que desejamos é compartilhar a emoção vivida pelo atleta, é como se estivéssemos ali, sacando, rebatendo, dando o voleio que de tão leve parece um sussurro. Assistir é vivenciar um pouco a beleza do gesto, elevado à perfeição. O esporte, como já disse uma vez o sábio Ramon Negócio, colega torcedor, é pura estética. Deixo-os com as palavras de Aleksandar Hemon.


“Então este, senhores, é o ponto crucial desta pequena narrativa: o momento de transcendência que talvez seja familiar àqueles que praticam esportes com outras pessoas; o momento, brotando em meio ao caos do jogo, em que todos os seus parceiros ocupam a posição ideal no campo; o momento em que o universo parece ser disposto por uma vontade coerente que não é a sua; o momento que se esvai – como tende a acontecer – quando você completa o passe; e tudo o que resta é uma memória vaga, física, orgástica do instante em que você estava completamente conectado ao mundo à sua volta”.