Dia ensolarado de sábado e, procurando no caos bibliotecário que minha casa se transformou nesses tempos de mudança, encontrei um texto suave do Drummond, nosso patrono, sobre a alegria de viver o verde, a observação do ir e vir da cidade, o domínio de sua geografia. O texto, intitulado Meditação no Alto da Boa Vista, foi publicado na coletânea Passeios na Ilha.
“Não obstante, hesito, partilhado entre preguiça e temor. Já não pula em mim o garoto subidor de ladeiras, e conheço a taquicardia. Mais vale ficar por aqui, perto da cascata múrmure (todas o são, de ofício), entre mercadores de morangos, namorados passavelmente românticos, estrangeiros propensos à cisma, colegiais “matando” aula – pequena população matinal dos parques, logo dispersa, reabsorvida pela corrente urbana.
Tenho altura para dominar a cidade, sem, contudo, afastamento que baste ao exílio. A breve distância da mata e dos episódios de rua, sinto-me concentrado, protegido, gratuito, manso, liberto. Como um pássaro de voo baixo.” (Carlos Drummond de Andrade)
Postar um comentário