Parte I - Caminhadas nos Jardins
Hoje, enquanto dirigia para o trabalho, bateu uma saudade doída de São Paulo, mais exatamente do tempo em que estive por aquelas bandas, com o coração pequeno e o olhar aberto. Creio que foi a chuva, o trânsito, uma semelhança qualquer com os dias cinzentos da metrópole sudeste. Lembrei de Bradbury e de sua teoria sobre a poesia de todas as coisas, sobre o olhar poético do cotidiano, e a orientação para escrever sempre, e muito, como se da escrita dependesse nossa própria salvação. Resolvi escrever sobre esse sentimento. Mas o que havia de especial nesses dias paulistanos, passados?
Aquela melancolia azul-pálido dos dias sem sol, friorentos, as caminhadas longas – aquelas de doer a panturrilha no fim do dia, durante um banho quente. Andava muito, quilômetros, ladeira acima e abaixo, para tomar o metrô, no campus, voltando para casa do cinema, para pensar. Caminhar era um exercício diário, necessário e prazeroso. A São Paulo dos que podem andar por opção é um deleite. Pois foi essa São Paulo das esquinas arborizadas da Rua da Consolação, do cruzamento da Bela Cintra com a Lorena, a São Paulo das melodias tristes do ipod, a cidade íntima, inacessível, particular que me veio hoje, com toda sua poesia e beleza, só saudade forte. São Paulo, acho que estou precisando de você.
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