Archive for março 2012
on Belas Artes
on Belas Artes
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como
sou - eu não aceito.
Não agüento ser apenas um
sujeito que abre
portas, que puxa válvulas,
que olha o relógio, que
compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora,
que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem
usando borboletas.
de exclamação.

on Cinema
on Reflexos

entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho,
e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor à procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa, amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.
on Japão
on Cinema
Lost in Translation (Encontros e Desencontros) é um filme sobre a solidão e, principalmente, sobre a solidão acompanhada. Charlotte, recém-formada em filosofia por uma prestigiada universidade americana, se vê sozinha em Tokyo após seu marido partir para o interior do Japão a uma viagem de trabalho. Esbarra no personagem (encantador) de Bill Murray, igualmente solitário e perdido, ator em crise de meia-idade que vai a Tokyo gravar comerciais para uma conhecida marca de bebida. É muito doce e inspiradora a relação criada entre Bob e Charlotte, especialmente pela melancolia dela e pelo carisma dele, que faz um pouco o papel de si mesmo. Porque, às vezes, é possível que a nossa solidão acabe encontrando a solidão de outro alguém.
P.S. A trilha sonora é encantadora.
O igual do dia,
E no exterior azul que vê
Simples confia!
Azul do céu faz pena a quem
Não pode ser
Na alma um azul do céu também
Com que viver
Ah, e se o verde com que estão
Os montes quedos
Pudesse haver no coração
E em seus segredos!
Mas vejo quem devia estar
Igual do dia
Insciente e sem querer passar.
Ah, a ironia
De só sentir a terra e o céu
Tão belo ser
Quem de si sente que perdeu
A alma p’ra os ter!
Riding on this know-how
Never been here before
Peculiarly entrusted
Possibly that's all
Is history recorded?
Does someone have a tape?
Surely, I'm no pioneer
Constellations stay the same
Just a little bit of danger
When intriguingly
Our little secret
Trusts that you trust me
'Cause no one will ever know
That this was happening
So tell me why you listen
When nobody's talking
What is there to know?
All this is what it is
You and me alone
Sheer simplicity
What is there to know?
All this is what it is
You and me alone
Sheer simplicity
What is there to know?
All this is what it is
You and me alone
Sheer simplicity
on Reflexos
A manhã, contudo, esteve bastante azul.
O dia deu em chuvoso.
Desde manhã eu estava um pouco triste.
Não sei: já ao acordar estava triste.
O dia deu em chuvoso.
Bem sei: o sol oprime, por ser tão ordinário, um elegante.
Bem sei: ser susceptível às mudanças de luz não é elegante.
Mas quem disse ao sol ou aos outros que eu quero ser elegante?
Dêem-me o céu azul e o sol visível.
Névoa, chuvas, escuros — isso tenho eu em mim.
Até amaria o lar, desde que o não tivesse.
Chego a ter sono de vontade de ter sossego.
Não exageremos!
Tenho efetivamente sono, sem explicação.
O dia deu em chuvoso.
É preciso ser-se criança para os ter...
Minha madrugada perdida, meu céu azul verdadeiro!
O dia deu em chuvoso.
Boca bonita da filha do caseiro,
Polpa de fruta de um coração por comer...
Quando foi isso? Não sei...
No azul da manhã...
O dia deu em chuvoso.
on Leitura
Muitas pessoas se queixam de pouca intimidade com a literatura ou dúvidas sobre como escolher o que ler. Ray Bradbury, autor do excelente Fahrenheit 451, nos orienta com clareza e simplicidade.
on Leitura
(CARRASCOZA, João Anzanello. Herança, publicado em Granta, n. 8, Brasil)
que a lembrança somente aflorava, está longe,
é uma lembrança. Perdura uma calma de espanto,
feita também ela de folhas e de nada. Desse tempo
mais distante que as recordações apenas resta
um vago recordar.
na imóvel luz dos dias de Verão,
aquele espanto remoto.
Pela janela vazia
o menino olhava a noite nas colinas
frescas e negras, e espantava-se de as ver assim tão juntas:
vaga e límpida imobilidade. Entre a folhagem
que sussurrava na escuridão, apareciam as colinas
onde todas as coisas do dia, as ladeiras
e as árvores e os vinhedos, eram nítidas e mortas
e a vida era outra, de vento, de céu,
e de folhas e de coisa nenhuma.
Às vezes regressa
na imóvel calma do dia a recordação
daquele viver absorto, na luz assombrada.
on Belas Artes
on Leitura
Quando assistimos ao jogo, o que desejamos é compartilhar a emoção vivida pelo atleta, é como se estivéssemos ali, sacando, rebatendo, dando o voleio que de tão leve parece um sussurro. Assistir é vivenciar um pouco a beleza do gesto, elevado à perfeição. O esporte, como já disse uma vez o sábio Ramon Negócio, colega torcedor, é pura estética. Deixo-os com as palavras de Aleksandar Hemon.
Traze-me um pouco das sombras serenas
que as nuvens transportam por cima do dia!
Um pouco de sombra, apenas,
- vê que nem te peço alegria.
Traze-me um pouco da alvura dos luares
que a noite sustenta no teu coração!
A alvura, apenas, dos ares:
- vê que nem te peço ilusão.
Traze-me um pouco da tua lembrança,
aroma perdido, saudade da flor!
-Vê que nem te digo - esperança!
-Vê que nem sequer sonho - amor!
on Belas Artes
Dia chuvoso, coração triste, gato preguiçoso. Jean-Claude Monet para nossos espíritos! Vista da Catedral Santa Maria della Salute, em Veneza.
on Cinema
on Belas Artes, Japão
on Belas Artes, Japão
que estão fazendo-se
como o pão ou as cadeiras ou o produto
das farmácias ou das oficinas
- há fábricas de dias que virão -
existem artesãos da alma
que levantam e pesam e preparam
certos dias amargos ou preciosos
que de repente chegam à porta
para premiar-nos
com uma laranja
ou assassinar-nos de imediato.
on Japão, Literatura Estrangeira
on Belas Artes, Japão
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