Archive for março 2012

Délicatesse


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Uma homenagem a minha irmã, a linda bailarina Manu Diniz, que só precisa do movimento para expressar a beleza.

A Ilusão de Escher


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Uma exposição chamada O Mundo Mágico de Escher, exibida em 2011 no Centro  Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, foi a mostra de arte mais visitada no mundo naquele ano, segundo o G1. A notícia discute a crença de que não há interesse do grande público em exposições de arte no país. Tive a ideia de trazer alguma coisinha do artista para cá, em homenagem a S. Castor, que é fã de seu trabalho.


Maurit Cornelis Escher, nascido na Holanda em 1898, é conhecido pelo ilusionismo fantástico de suas gravuras xilogravuras e litogravuras, que nos remete a um mundo de sonho, marcado por um forte grafismo geométrico.


Para os que gostam de geometria.

Normalidade Natural: Manoel de Barros


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Após tudo ter resolvido com a ajuda do acaso, quando eu já estava quase desistindo de manter este layout e pensava em substituí-lo por outro, podemos retornar à normalidade literária do blog. Obrigada a todos pela espera gentil.






Hoje eu resolvi trocar meu horário de almoço por uma hora e meia de tranquilidade, em casa, com o meu gato, na minha cama, só ouvindo o tictaquear do relógio. Nada mais propício do que um poema do Manoel de Barros para celebrar esse momento de paz no meu dia.



Por Manoel de Barros

A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como
sou - eu não aceito.
Não agüento ser apenas um
sujeito que abre
portas, que puxa válvulas,
que olha o relógio, que
compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora,
que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem
usando borboletas.

Desculpas


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Queridos amigos do Ler para Contar,

pedimos desculpas por esse problema

técnico

que me obriga a este poema.

Estou tentando resolver isso,

A mudança de casa,

O cansaço da vida,

O imponderável de um ponto

de exclamação. 

Amanhã tudo deve voltar

ao

normal.



Obrigada a todos pela paciência. :)

Convite Musical


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Todos os alunos da faculdade estão convidados para o Concerto Universitário que acontecerá amanhã, dia 28 de março, no Teatro Nila Brasil Soárez (5º Andar), às 19h. O Concerto será executado pela Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho, com a participação especial do solista italiano Emmanuele Baldini, e executará a obra de Antonio Vivaldi, As Quatro Estações. Uma grande oportunidade para ouvir boa música, elevar o espírito e trazer um pouco de beleza para o nosso cotidiano. O último Concerto Universitário foi uma experiência emocionante e não deixou espectadores arrependidos. Em virtude da programação especial, os professores e alunos estão convidados para assistir ao espetáculo, não havendo aulas regulares no horário AB do turno noturno. Espero todos vocês lá!

Literatura de Guerra


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O universo de memórias da segunda guerra mundial é bastante rico e tem dado material para elaboração de documentários, filmes, exposições, análises filosóficas. A literatura também presta uma grande contribuição àqueles que desejam compreender o que significou vivenciar, como civil, um conflito de proporções intercontinentais. Muitos escritores viveram o cotidiano da guerra e utilizaram a experiência para criar romances e novelas ambientados nesse contexto, dando uma boa ideia das angústias, dúvidas, dificuldades, dor daqueles que sofreram na pele a grande catástrofe. A escritora russa de origem judaica Irène Némirovsky escreveu a obra-prima Suíte Francesa, descoberta num pequeno diário 62 anos depois de sua morte (foto do manuscrito abaixo), motivada pela deportação para Auschwitz em 1942. Nessa obra, é possível compreender qual foi o clima da França ocupada pelos nazistas e como foi caótica e desesperada a desocupação de Paris logo antes da chegada dos alemães à cidade. Para ler e se emocionar. A literatura nos ensina a não repetir os erros do passado.




“Quente, pensavam os parisienses. Ar de primavera. Era a noite na guerra, o alerta. Mas a noite se apaga, a guerra está longe. Os que não dormiam, os doentes no fundo do leito, as mães cujos filhos estavam na frente de batalha, as mulheres apaixonadas de olhos murchos pelas lágrimas ouviam o primeiro apito da sirene. Ainda era só uma aspiração profunda e semelhante ao suspiro que sai de um peito oprimido”.

Dominical


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Domingo, dia atroz. Um pouco da fotografia de Manhattan, filme do mestre Woody Allen, o neurótico dos neuróticos, provável inimigo dos domingos.

Reflexão de Domingo


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O post de hoje chega como uma reflexão para os alunos, que se veem envolvidos com tantas ideias de falsos ídolos, valores caducos, percepções distorcidas da vida. Ninguém melhor que o mestre argentino Ernesto Sabato, que além de escritor também foi acadêmico e professor, para nos orientar neste mar de escuridão moral. Porque o que restará de nós, afinal, abraçados à nossa lembrança, serão os nossos valores.




“Há certos dias em que acordo com uma esperança demencial, momentos em que sinto que as possibilidades de uma vida mais humana estão ao alcance de nossas mãos. Hoje é um desses dias.

E então me ponho a escrever quase às apalpadelas na madrugada, com urgência, como alguém que saísse para rua pedindo ajuda diante de uma ameaça de incêndio, ou como um navio que, a ponto de afundar, mandasse um último e fervoroso sinal para um porto que sabe próximo mas ensurdecido pelo barulho da cidade e pela infinidade de letreiros que confundem o olhar.

Peço a vocês que paremos para pensar na grandeza que ainda podemos pretender se ousarmos avaliar a vida de outra maneira. Peço a nós essa coragem que nos situa na verdadeira dimensão do homem. Todos, repetidas vezes, fraquejamos. Mas há uma coisa que não falha, e é a convicção de que – unicamente – os valores do espírito podem nos resgatar deste terremoto que ameaça a condição humana”. (SABATO, Ernesto. A Resistência. São Paulo: Cia das Letras, 2008, pg. 13).

O Espelho e a Sombra


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Sexta-feira é dia de boa literatura, e deixo com vocês um trecho do conto “Não há sombra no espelho”, do grande escritor uruguaio Mario Benedetti, publicado na coletânea Correio do Tempo (Alfaguara).


“Não é a primeira vez que escrevo meu nome, Renato Valenzuela, e o vejo como se fosse de outra pessoa, de alguém distante com quem perdi contato faz tempo. Em outras ocasiões, diante do espelho, quando acabo de me barbear, vejo um rosto que mal reconheço, como se fosse o esboço ou a caricatura de outro rosto, com que estou mais ou menos acostumado. Então acho que esse olhar não é o meu, que essas pupilas de rancor não me dizem respeito, que essas rugas pertencem a outra máscara, que esses fiordes de calvície não correspondem à minha geografia capilar. É verdade que tais divagações costumam ser momentâneas, metamorfoses que duram o tempo de um suspiro, mas sempre me deixam instável, desassossegado, indefeso. É por isso, Renato Valenzuela, que talvez tenha chegado a hora de acertar as nossas contas. Com o tempo, com o passado, com as feridas, com as promessas, contigo/comigo. Todas.”

Silêncio de Cores


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Fotografia de Araquém Alcântara.

Solução: Amar


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Carlos Drummond de Andrade

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho,
e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor à procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa, amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.

As Joias do Imperador: O Koi-Nobori


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A cultura ancestral japonesa é rica de festivais populares, voltados à celebração de elementos como a mudança nas estações do ano, datas comemorativas, personalidades, etc. Um dos festivais que remonta ao século XVII é o Koi-Nobori, que celebra o dia das crianças (originariamente dia dos meninos) no dia 5 de maio. A locução Koi-Nobori pode ser traduzida como “a subida das carpas”. Nessa festa popular, as famílias hasteiam mastros de bambu decorados com birutas de papel ou tecido no formato de carpas, que simbolizam a perseverança, a valentia de nadar contra a corrente, a energia masculina. A representatividade das cores nas birutas é importante, pois devem ser hasteadas tantas carpas quanto sejam os homens da casa: o pai simbolizado pelo preto, seguido pelo filho mais velho, de vermelho, e o mais novo representado pelo verde, com cores intermediárias.



A carpa (Koi) é considerada uma joia viva pela cultura japonesa, pela sua beleza e pela simbologia da superação e da perseverança. A história da carpa que nada contra a corrente, subindo rio acima, e que, ao final da travessia, se transforma em Dragão é um mito popular de força de vontade e caráter que habita o imaginário e as representações populares japoneses. Não é por outro motivo que todo jardim japonês que se preze precisa manter um lago de carpas, preferencialmente com passarelas suspensas onde se possa observá-las.

A Revoada


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Hoje, lendo o jornal despretensiosamente, deparei com essa foto lindíssima, publicada n'O POVO, de autoria de Alê Machado. Uma foto para nos fazer olhar para o céu e sorrir com uma revoada de bons pensamentos. Bom dia.


Melancolia do Desencontro: Lost in Translation


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Lost in  Translation (Encontros e Desencontros) é um filme sobre a solidão e, principalmente, sobre a solidão acompanhada. Charlotte, recém-formada em filosofia por uma prestigiada universidade americana, se vê sozinha em Tokyo após seu marido partir para o interior do Japão a uma viagem de trabalho. Esbarra no personagem (encantador) de Bill Murray, igualmente solitário e perdido, ator em crise de meia-idade que vai a Tokyo gravar comerciais para uma conhecida marca de bebida. É muito doce e inspiradora a relação criada entre Bob e Charlotte, especialmente pela melancolia dela e pelo carisma dele, que faz um pouco o papel de si mesmo. Porque, às vezes, é possível que a nossa solidão acabe encontrando a solidão de outro alguém.




Vale a pena morrer de rir com as cenas de Bill gravando o comercial e chorar com a despedida dos dois em meio a uma Tokyo movimentada e futurista.

P.S. A trilha sonora é encantadora.

A Docilidade em Dostoiévski


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Fiódor Dostoiévski é considerado um dos maiores romancistas de todos os tempos. Nascido na Rússia, no ano de 1821, é autor de obras-primas como O Eterno Marido e Crime e Castigo. Hoje, o autor me fez companhia com a novela Uma Criatura Dócil, cuja tradução é publicada pela Cosac e Naify, com as gravuras de Lasar Sagall. Na história, uma jovem de 16 anos, órfã e pobre, é levada a se casar com um usurário mais velho, cuja personalidade é marcada pelo ciúme e paranoia. O romance relata a breve história do casamento, a partir da perspectiva atormentada do marido, em desespero pelo suicídio da mulher. Grande leitura!




“A rotina! Oh, a natureza! Os homens estão sozinhos na terra, essa é a desgraça! “Há alguma alma viva sobre a terra?”, grita o bogatir russo. Eu, que não sou bogatir, grito o mesmo, e ninguém dá sinal de vida. Dizem que o Sol dá vida ao universo. O Sol está nascendo, olhem para ele, por acaso não é um cadáver? Tudo está morto, e há cadáveres por toda parte. Os homens estão sozinhos, rodeados pelo silêncio – isso é a terra! “Homens, amai-vos uns aos outros” – quem disse isso? De quem é esse mandamento? O pêndulo bate de um modo insensível, nauseante. São duas horas da madrugada. Suas botinhas estão junto à cama, como se esperassem por ela... Não, falo sério, quando a levarem amanhã, o que vai ser de mim?”

O Cancioneiro de Lisboa: Dias Felizes


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Feliz dia para quem é

Fernando Pessoa



Feliz dia para quem é
O igual do dia,
E no exterior azul que vê
Simples confia!

Azul do céu faz pena a quem
Não pode ser
Na alma um azul do céu também
Com que viver

Ah, e se o verde com que estão
Os montes quedos
Pudesse haver no coração
E em seus segredos!

Mas vejo quem devia estar
Igual do dia
Insciente e sem querer passar.
Ah, a ironia

De só sentir a terra e o céu
Tão belo ser
Quem de si sente que perdeu
A alma p’ra os ter!

Meditação sobre a Cidade: Olhares de Drummond


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Dia ensolarado de sábado e, procurando no caos bibliotecário que minha casa se transformou nesses tempos de mudança, encontrei um texto suave do Drummond, nosso patrono, sobre a alegria de viver o verde, a observação do ir e vir da cidade, o domínio de sua geografia. O texto, intitulado Meditação no Alto da Boa Vista, foi publicado na coletânea Passeios na Ilha.



“Não obstante, hesito, partilhado entre preguiça e temor. Já não pula em mim o garoto subidor de ladeiras, e conheço a taquicardia. Mais vale ficar por aqui, perto da cascata múrmure (todas o são, de ofício), entre mercadores de morangos, namorados passavelmente românticos, estrangeiros propensos à cisma, colegiais “matando” aula – pequena população matinal dos parques, logo dispersa, reabsorvida pela corrente urbana.

Tenho altura para dominar a cidade, sem, contudo, afastamento que baste ao exílio. A breve distância da mata e dos episódios de rua, sinto-me concentrado, protegido, gratuito, manso, liberto. Como um pássaro de voo baixo.” (Carlos Drummond de Andrade)

Cheirinho de Sábado: Kings of Convenience


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Riding on this know-how
Never been here before
Peculiarly entrusted
Possibly that's all
Is history recorded?
Does someone have a tape?
Surely, I'm no pioneer
Constellations stay the same

Just a little bit of danger
When intriguingly
Our little secret
Trusts that you trust me
'Cause no one will ever know
That this was happening
So tell me why you listen
When nobody's talking

What is there to know?
All this is what it is
You and me alone
Sheer simplicity

What is there to know?
All this is what it is
You and me alone
Sheer simplicity

What is there to know?
All this is what it is
You and me alone
Sheer simplicity

Gatos Literários: Otto Lara Resende


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Ontem estava revendo Os Maias na TV, quando um lindo persa chinchilla apareceu nos braços de Dom Afonso, manhoso. Inspirada por Bonifácio, o belo gatinho de Carlos Eduardo da Maia, herói do realismo literário português, deixo um parágrafo do texto Gato gato gato, de Otto Lara Resende, para trazer o ronronado doce dos felinos para a nossa sexta-feira. Em homenagem ao Bob, que agora mordisca os meus pés, adivinhando o tema do post.





"O pêlo do gato para alisar. Limpinho, o quente contato da mão no dorso, corcoveante e nodoso à carícia. O lânguido sono de morfinômano. O marzinho de leite no pires e a língua secreta, ágil. A ninhada de gatos, os vacilantes filhotes de olhos cerrados. O novelo, a bola de papel — o menino e o gato brincando. Gato lúdico. O gatorro, mais felino do que o cachorro é canino. Gato persa, gatochim — o espirro do gato de olhos orientais. Gato de botas, as aristocráticas pantufas do gato. A manha do gato, gatimanha: teve uma gata miolenta em segredo chamada Alemanha."

A Poesia do Cotidiano e da Cidade: Saudades de São Paulo


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Parte I - Caminhadas nos Jardins

Hoje, enquanto dirigia para o trabalho, bateu uma saudade doída de São Paulo, mais exatamente do tempo em que estive por aquelas bandas, com o coração pequeno e o olhar aberto. Creio que foi a chuva, o trânsito, uma semelhança qualquer com os dias cinzentos da metrópole sudeste. Lembrei de Bradbury e de sua teoria sobre a poesia de todas as coisas, sobre o olhar poético do cotidiano, e a orientação para escrever sempre, e muito, como se da escrita dependesse nossa própria salvação. Resolvi escrever sobre esse sentimento. Mas o que havia de especial nesses dias paulistanos, passados?


Aquela melancolia azul-pálido dos dias sem sol, friorentos, as caminhadas longas – aquelas de doer a panturrilha no fim do dia, durante um banho quente. Andava muito, quilômetros, ladeira acima e abaixo, para tomar o metrô, no campus, voltando para casa do cinema, para pensar. Caminhar era um exercício diário, necessário e prazeroso. A São Paulo dos que podem andar por opção é um deleite. Pois foi essa São Paulo das esquinas arborizadas da Rua da Consolação, do cruzamento da Bela Cintra com a Lorena, a São Paulo das melodias tristes do ipod, a cidade íntima, inacessível, particular que me veio hoje, com toda sua poesia e beleza, só saudade forte. São Paulo, acho que estou precisando de você.

Álvaro de Campos e a Chuva d'Alma


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O Dia Deu em Chuvoso

Álvaro de Campos

O dia deu em chuvoso.
A manhã, contudo, esteve bastante azul.
O dia deu em chuvoso.
Desde manhã eu estava um pouco triste.

Antecipação! Tristeza? Coisa nenhuma?
Não sei: já ao acordar estava triste.
O dia deu em chuvoso.

Bem sei, a penumbra da chuva é elegante.
Bem sei: o sol oprime, por ser tão ordinário, um elegante.
Bem sei: ser susceptível às mudanças de luz não é elegante.
Mas quem disse ao sol ou aos outros que eu quero ser elegante?
Dêem-me o céu azul e o sol visível.
Névoa, chuvas, escuros — isso tenho eu em mim.
Hoje quero só sossego.
Até amaria o lar, desde que o não tivesse.
Chego a ter sono de vontade de ter sossego.
Não exageremos!
Tenho efetivamente sono, sem explicação.
O dia deu em chuvoso.

Carinhos? Afetos? São memórias...
É preciso ser-se criança para os ter...
Minha madrugada perdida, meu céu azul verdadeiro!
O dia deu em chuvoso.

Boca bonita da filha do caseiro,
Polpa de fruta de um coração por comer...
Quando foi isso? Não sei...
No azul da manhã...

O dia deu em chuvoso.

Leia sempre e muito! Dicas de Bradbury


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Muitas pessoas se queixam de pouca intimidade com a literatura ou dúvidas sobre como escolher o que ler. Ray Bradbury, autor do excelente Fahrenheit 451, nos orienta com clareza e simplicidade.




“Que poesia? Qualquer uma que arrepie os pelos dos seus braços. Não se esforce demais; vá com calma. Ao longo dos anos, você vai compreender, virar-se bem e ultrapassar T. S. Eliot no caminho para novas pastagens. Você não consegue compreender Dylan Thomas? Mas seus gânglios, sua sabedoria secreta e toda a sua criança ainda por nascer o compreendem. Leia-o, assim como quem lê um cavalo com os olhos, liberte-se e cavalgue por um campo verdejante infinito num dia de muito vento.

O que mais cabe na sua dieta?

Livros de ensaio. Aqui novamente, pegue e escolha; passeie pelos séculos. Há muito que colher mesmo que o ensaio tenha se tornado menos popular. [...]

Em sua leitura, encontre livros para melhorar o seu sentido das cores, das formas e dos tamanhos do mundo.”

(BRADBURY, Ray. O Zen e a Arte da Escrita. São Paulo: Leya, 2011, pg. 55)

Do Avião


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Deixo vocês com o lindo texto de João Anzanello Carrascoza para começar bem a quarta-feira. O que vocês pensam ao olhar pela janela do avião?




De repente, às alturas, o azul macio acolhendo seu olhar. A claridade excessiva. Doloria aquele ir, a movediça solidão. Mas, aos poucos, o mundo se recompunha. O que vinha - ele via pela janela - era também vida, na sua variedade: a terra ondulante, em meio ao esgarçado das nuvens, com seus quadrados de verde, o colear de um rio, um ajuntamento de casas, as paisagens se fazendo à sua vista - e, ali, mais à frente, de novo o verde dos campos, as cidades abertas aos ares, tudo tão quente na memória, entranhando-se.

(CARRASCOZA, João Anzanello. Herança, publicado em Granta, n. 8, Brasil)

Saudades d'Itália: Cesare Pavese


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A Noite
Cesare Pavese

Mas a noite ventosa, a noite límpida
que a lembrança somente aflorava, está longe,
é uma lembrança. Perdura uma calma de espanto,
feita também ela de folhas e de nada. Desse tempo
mais distante que as recordações apenas resta
um vago recordar.
Às vezes volta à luz do dia,
na imóvel luz dos dias de Verão,
aquele espanto remoto.

                               Pela janela vazia
o menino olhava a noite nas colinas
frescas e negras, e espantava-se de as ver assim tão juntas:
vaga e límpida imobilidade. Entre a folhagem
que sussurrava na escuridão, apareciam as colinas
onde todas as coisas do dia, as ladeiras
e as árvores e os vinhedos, eram nítidas e mortas
e a vida era outra, de vento, de céu,
e de folhas e de coisa nenhuma.

                                        Às vezes regressa
na imóvel calma do dia a recordação
daquele viver absorto, na luz assombrada.

Beleza da Foto e da Tela: Henri Matisse e Cartier-Bresson


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Um portrait de Henri Matisse por Cartier-Bresson.




E, agora, um portrait da vida de todos os dias por Henri Matisse. Boa segunda!



Torpor de Domingo: Sobre o Esporte e o Prazer


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É domingo, são nove horas da noite, e estou assistindo a um jogo do Masters de Indian Wells, tradicional torneio de tênis americano, entre o argentino Nalbandian e o croata Cilic, depois de ter assistido – meio dormindo, meio acordada – ao emocionante jogo entre Bolonha e Lazio. Domingo, na minha vida, desde 2010, é um dia associado ao esporte, à relaxante rotina de acompanhar uma programação tão previsível quanto segura, que começa com o futebol e termina com algum esporte não tão popular como tênis, rugby, vôlei, futebol americano, NBA e até MMA, se for o que restar. Tenho a absoluta certeza que não sou a única a ter o costume de me prostrar na frente da TV e esse hábito – que me traz tanto conforto no meu final de semana – sempre foi algo incompreendido por amigos, alunos e marido. Hoje a literatura, por uma coincidência, deu aos mãos ao esporte, e explico porquê.

Mais cedo, durante uma caça à leitura na livraria, decidi comprar o último volume da GRANTA publicado no Brasil, cujo tema é o Trabalho. Essa ótima revista, publicada em vários países pela Alfaguara, reúne textos de vários bons autores com mesmo tema gerador, como o Sexo, a Família, entre outros. Um dos textos, de autoria de Aleksandar Hemon, chamou de imediato a atenção:  Se Deus existisse, seria um meia de primeira. A narrativa enfoca o papel do futebol e do esporte na vida de um refugiado bósnio dos Estados Unidos, como prática que o permitiu continuar sua nova vida com alguma lembrança da rotina deixada para trás. Por que o esporte mexe tanto com as pessoas?

Quando assistimos ao jogo, o que desejamos é compartilhar a emoção vivida pelo atleta, é como se estivéssemos ali, sacando, rebatendo, dando o voleio que de tão leve parece um sussurro. Assistir é vivenciar um pouco a beleza do gesto, elevado à perfeição. O esporte, como já disse uma vez o sábio Ramon Negócio, colega torcedor, é pura estética. Deixo-os com as palavras de Aleksandar Hemon.


“Então este, senhores, é o ponto crucial desta pequena narrativa: o momento de transcendência que talvez seja familiar àqueles que praticam esportes com outras pessoas; o momento, brotando em meio ao caos do jogo, em que todos os seus parceiros ocupam a posição ideal no campo; o momento em que o universo parece ser disposto por uma vontade coerente que não é a sua; o momento que se esvai – como tende a acontecer – quando você completa o passe; e tudo o que resta é uma memória vaga, física, orgástica do instante em que você estava completamente conectado ao mundo à sua volta”.

Cecilia e a Desesperança


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Traze-me
Por Cecília Meireles

Traze-me um pouco das sombras serenas
que as nuvens transportam por cima do dia!
Um pouco de sombra, apenas,
- vê que nem te peço alegria.
Traze-me um pouco da alvura dos luares
que a noite sustenta no teu coração!
A alvura, apenas, dos ares:
- vê que nem te peço ilusão.
Traze-me um pouco da tua lembrança,
aroma perdido, saudade da flor!
-Vê que nem te digo - esperança!
-Vê que nem sequer sonho - amor!

Monet em Veneza


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Dia chuvoso, coração triste, gato preguiçoso. Jean-Claude Monet para nossos espíritos! Vista da Catedral Santa Maria della Salute, em Veneza.



O Prelúdio de Bach


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Lua especial pede uma música magnífica, neste vídeo tocada no violão, embora seja tradicionalmente executada no violoncelo.



A Princesa e o Plebeu: Amores Romanos


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Mais de Roma! Deixo com vocês o trailler do filme Roman Holiday, com Audrey Hepburn e Gregory Peck, cujo título em português é a Princesa e o Plebeu. Além do encantamento de Audrey, o filme conta com locações belíssimas na capital italiana. No filme, Hepburn vive a princesa triste, enclausurada em uma vida de obrigações sociais, enquanto Peck faz o papel do italiano pobre boa-vida que vai apresentar a cidade à princesa. Vamos viver o dia mais feliz de nossas vidas? Baccio a tutti.

Eneida e a Criação de Roma


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Paris é considerada a cidade mais bonita do mundo, mas Roma jamais perderá o posto de le Città. Roma não é a cidade luz, mas a Luz. Em plena Antiguidade, quando as aglomerações humanas não ultrapassavam a casa dos milhares, Roma tinha uma infraestrutura urbana que gozava de água encanada, esgotamento, banhos públicos, e milhões de habitantes organizados num modelo político que garantiu – tanto quanto a época permitiu – alguma participação popular nos negócios públicos. A literatura antiga tem na obra Eneida, de Virgílio, um poema épico cujo tema de fundo é a criação de Roma, a partir das aventuras do herói Enéias. Deixo um trechinho para vocês, com a tradução de Tassilo Spalding. Nosso desejo de que Roma continue brilhando hoje e sempre.




"Outros saberão, com mais habilidade, abrir e animar o bron­ze, creio de boa mente, e tirar do mármore figuras vivas, melhor defenderão as causas e melhor descreverão com o compasso o movi­mento dos céus e marcarão o curso das constelações: tu, romano, lembra-te de governar os povos sob teu império. Estas serão tuas artes, impor condições de paz, poupar os vencidos e dominar os soberbos."

Ukiyo-ê: A Delicadeza do Mundo Flutuante


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A pintura do mundo flutuante (Ukiyo-ê), no Japão, compreende um período que vai do século XVII ao XIX. As obras de Hokusai, Hiroshige, Utamaro e Choki representam a natureza, a mudança das estações do ano, personagens femininos e masculinos, o erotismo das cenas mais íntimas, pequenas cenas do cotidiano japonês tradicional. As obras eram impressas em papel por meio de xilogravuras, muitas vezes delicadamente coloridas com pincel. Para nós, que não compartilhamos desse universo cultural, é um deleite sonhar com a neve, a pele empoada das gueixas, o barulho da água que bate, de leve, nos barcos. Já havíamos apresentado uma conhecida obra de Hokusai neste post, mas aproveitamos para renovar nosso amor à cultura japonesa num dia assim feito para ser triste. Um dia de possibilidades não realizadas. Boa quarta pra vocês!  Seguem duas obras de Ando Hiroshige.



Visão do Templo nas Montanhas





Os amantes de Kitagawa Utamaro, cuja obra é marcada pela representação do erotismo.


A Fotografia Dançante de Taguchi


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Nobuyuki Taguchi é um fotógrafo nascido em Yokohama, em 1968, e residente em Londres. Tem fotografias fantásticas, com muito movimento, e um site exemplar. Uma boa noite de terça pra vocês, com a tristeza de saber que estaria indo para Roma amanhã, se não fosse o acaso, este maldito. Fiquem com a Veneza de sonho de Taguchi.

Uma Laranja para Neruda


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Esperemos

Pablo Neruda

Há outros dias que não têm chegado ainda,
que estão fazendo-se
como o pão ou as cadeiras ou o produto
das farmácias ou das oficinas
- há fábricas de dias que virão -
existem artesãos da alma
que levantam e pesam e preparam
certos dias amargos ou preciosos
que de repente chegam à porta
para premiar-nos
com uma laranja
ou assassinar-nos de imediato.

Lirismo de Kawabata: Dançando com Palavras


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Já que começamos o dia com Ueda, deixo com vocês, como estímulo para a segunda-feira que se aproxima, um trecho do lindo romance A Dançarina de Izu, publicado em 1926, pelo japonês ganhador do Nobel Yasunari Kawabata. O meu escritor japonês favorito, que, em 1968, foi agraciado com o prêmio da academia sueca, dono de uma escrita lírica, quase impressionista, com lindas descrições do Japão tradicional.
 





No dia seguinte, pela manhã, levaria a velha senhora até a estação de Ueno e lhe compraria um bilhete até Mito. Era uma questão urgente.

Tudo parecia estar em perfeita harmonia. No salão, o lampião se apagou. O mar e o peixe fresco amontoado no navio exalavam um cheiro muito forte.

Em meio à escuridão, enquanto me aquecia com o calor do corpo do estudante a meu lado, meus olhos converteram-se em dois pequenos oceanos cercados por todos os lados pela minha face. Minha mente parecia estar se transformando em fonte de água pura que, como a vida, se derramava gota a gota. Por fim, sobrou o doce sentimento de nada mais estar.

Pausa no Real: Shoji Ueda


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Uma pausa no domingo.


A fotografia poética do japonês Shoji Ueda.

Extra, Extra! Agualusa em Fortaleza!


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Especialmente para o professor Raul, notícia feliz que acabamos de descobrir nos corredores da Faculdade: o escritor angolano José Eduardo Agualusa, de quem falamos no blog na segunda-feira passada, estará no Ceará nos dias 24 e 25 de maio, proferindo uma palestra intitulada “A Travessia da Literatura Africana para o Brasil” no projeto Debates Universitários d’O POVO. O colóquio acontecerá na Universidade Federal do Ceará, no dia 24 de maio, às 19h, e na UNILAB, em Redenção, às 15h no dia 25 de maio. O projeto dos Debates Universitários será iniciado no próximo dia 6 de março, às 19h, no auditório Rachel de Queiroz da UFC no campus do Benfica, com o historiador Ronaldo Vainfas, que falará sobre “Narrativas cruzadas: o texto entre a literatura e a história”.  Estaremos lá!


As Cores da Primavera: Holi


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A primavera chegou ao hemisfério norte e os hindus comemoram hoje o Festival das Cores, ou Holi. Muita cor, alegria, música e risos. Na brincadeira, crianças e adultos fazem uma espécie de “mela-mela” com pós coloridos que representam as diferentes divindades. Feliz Holi para você!



Kamadeva é a divindade hindu que personifica a primavera, e é representado com um arco e flecha ornamentado com várias espécies de flores. É considerado o deus do amor e simboliza a força vital relacionada ao erotismo e à paixão. Que Kamadeva traga muito amor para todos nós, pelo menos em pensamento.