Não sei
como passei tantos anos sem conhecer o escritor maranhense Josué Montello.
Nascido em 1917, o escritor tem uma obra vastíssima, distribuída entre romances,
diários, peças teatrais, crítica literária e crônicas de cotidiano. Foi membro
da Academia Brasileira de Letras e recebeu críticas entusiasmadas de nomes como
Carlos Drummond de Andrade. Como eu descobri? Da forma como eu descobri muitos
outros tesouros: “garimpando” nas prateleiras da livraria sem tempo para ir
embora. Estava em São Paulo, com tempo de sobra, numa livraria de rua que eu
adoro, até que vi aquela pilha de livros envelhecidos, publicados pela Editora
Nova Fronteira, e pensei que só podia ser algo importante a ponto de justificar
sua presença amarelada entre as obras recém-lançadas. Comecei a ler o romance Um beiral para os bentevis e fiquei
absolutamente encantada com a riqueza narrativa, os personagens, a prosa
simples e bem construída de Montello. Voltei para Fortaleza com tudo que pude
encontrar do escritor e planejo passar as próximas semanas explorando suas
páginas. Vamos ao romance que já li.
A
história se passa em São Luís, tendo um antigo sobrado da Praia Grande como
cenário principal. O enredo cobre algumas décadas na vida de uma família
tradicional do Maranhão, em diferentes gerações. A técnica empregada pelo autor
é recontar os mesmos fatos através dos distintos olhares dos personagens que o
viveram. Temos Magda, a neta, Venâncio Sezefredo, o avô religioso e severo, a
Vedete, a tia “perdida” que foi dançar no Moulin Rouge em Paris, tia Bilu, a
solteirona que cuida de todos e do sobrado, Karl, o sobrinho alemão, e até um
charlatão que se passa por parente distante. É uma história cativante, que gira
em torno da perseverança de Magda em esperar por Jerônimo – músico de talento
que foi ganhar a vida no Rio de Janeiro - mesmo contra a vontade de seu avô.
“A
primeira reação do Venâncio Sezefredo, ao saber que Magda, sua única neta, criada
por ele como se fosse filha, tinha atravessado a ponte para o bairro de São
Francisco, tarde da noite, nua, na garupa de uma motocicleta, foi também um
rasgo estranho, de quem estava fora de seu juízo: pegou num chicote, que vinha
do tempo em que passeava a cavalo nas ruas de São Luís, e saiu batendo com
raiva, com fúria, em todas as mulheres que ia encontrando”.
P.S. Faz tempo que o autor não é editado, de modo que não será fácil encontrá-lo nas livrarias, especialmente em Fortaleza, mas nada que uma busca no site da Estante Virtual não resolva! Vale a pena.
Postar um comentário