Quando se
tem vinte e poucos anos, a velhice é um lugar que não existe. O corpo funciona,
os planos se medem em décadas, o outro parece ocupar um papel menor no roteiro
da nossa vida. Poucos têm a sorte de envelhecer com o companheiro de uma vida,
cultivando, dia após dia, um amor que não se apaga com o cotidiano e o completo
conhecimento do outro. O filme Amor, de
Michael Haneke, é um filme sobre o morrer em vida, sobre a perda de si, mas,
sobretudo, é um filme sobre a lealdade de um amor incondicional. Anne e Georges
são dois aposentados que levam uma vida pacata. O filme dá a entender que Anne
foi uma professora de piano e a vida dos dois parece orbitar em torno da
apreciação estética: concertos, teatro, leituras compartilhadas, refeições ao
pé da janela, enquanto conversam sobre memórias da infância. Um casal adorável,
sem excessos, que habita uma casa confortável em Paris. Paredes repletas de
livros, gravuras, óleos, vinis e cds. Até que Anne começa a sofrer ausências e
sua doença se anuncia: seu corpo envelhece com uma rapidez espantosa. Embora
não seja dito, Anne parece sofrer de Alzheimer. Vamos acompanhar o cuidado de Georges,
sua dedicação, sua candura. Por que é tão triste e tocante? Porque é sem drama,
é resignado, é carinhoso: Georges cuida de Anne sem reclamar, ao mesmo tempo em
que ele também é um idoso, já debilitado e frágil. Chorei muito, passei o dia
triste, mas valeu a pena. É um filme sobre o amor que a poesia não canta: o
amor do apagar das luzes.
Parece ser muito belo e triste.