Hoje resolvi
fazer um post diferente. Não me sinto capaz de falar de livro nenhum, indicar
qualquer música ou exibir qualquer pintura que me emocione. Há períodos da vida
que são mais conturbados, a gente mal consegue dar conta das obrigações do dia,
sem falar dos projetos e deveres de casa, que também preenchem tanto o tempo livre.
Já se foram duas semanas sem que eu tenha conseguido terminar livro algum –
romance, peça, conto, poema. Toda a disposição mental tem sido empregada para
outras tarefas, de modo que não me sobra muita concentração, e há mesmo uma fadiga
nos olhos no final do dia que não é muito convidativa para leituras. Então, por
que não falar sobre tudo isso, tentando dar alguma ordem a esse estado confuso
de emoções, expectativas e angústias? Já percebi que os amigos leitores deste
blog costumam interagir mais com posts dessa natureza. É algo que me
surpreende. É como se, através da palavra, a palavra autoral, as pessoas de
algum modo compartilhassem o que o há de mais íntimo no meu dia, o meu
pensamento. Então, para aquele aluno que vê a professora caminhando pelo pátio
da faculdade, com o olhar meio cansado e distante, o aluno que lê de vez em
quando o blog, é possível pensar que aquele personagem, “a professora”, também
tem seus dias ruins, suas aflições, que teve dor de cabeça ontem ou que gosta de
assistir ao futebol no final de semana. O personagem se materializa em alguém
real, alguém que também faz parte do seu dia pela confissão da palavra escrita.
Acontece algo semelhante com a literatura, porque ela é um convite ao mundo íntimo de outra pessoa. Quando você lê algo com que
realmente se identifique, é como se o autor tivesse escrito aquele texto para
você, para conversar, para dizer: “eu entendo o que você sofre, ou pensa, ou
gosta”. Enfim, é uma conexão, uma conexão espiritual. Ontem uma amiga me disse
algo divertido, em um jantar animado de fim de noite: uma conhecida tinha
encontrado o escritor Mia Couto em uma noite de autógrafos e soltado uma frase
inusitada e espontânea, “Mia Couto, eu amo você”. Eu me solidarizei com a
leitora apaixonada. Quando gostamos muito de um autor, nasce essa espécie de “amor
literário”, o amor por alguém que você não conhece, alguém que está longe, mas
que, ao mesmo tempo, é capaz de “acessar” os seus pensamentos mais íntimos,
fazendo a gente pensar que, afinal, não estamos mesmo sozinhos neste mundão sem
fim. Não posso me alongar mais, senão o blog deixa de ser blog e se torna
livro. Mas, de todo modo, vim aqui hoje para compartilhar com vocês esta ideia: hoje eu não
sou capaz de elaborar nenhum discurso além desse, o discurso que não é um
discurso, e isso é algo perfeitamente humano. É preciso se dar tempo. É preciso
entender que às vezes o melhor é dormir e descansar. E agora vamos à TV, porque
começou o jogo dos Celtics, é um bom modo de acabar a sexta-feira, porque há dias
em que nem a literatura chega.
Professora,
Reitero minha humilde e sincera opinião: o blog fica cada vez melhor... além de cada vez se aproximar mais de quem o lê :)
Antonio
Antônio, obrigada! O ano vai acabando, a gente vai ficando cansado e as defesas vão embora. :) Abraço!