Já faz
um tempinho que o Manuel Bandeira, o poeta que melhor cantou a melancolia no
Brasil, não anda por aqui. Então, como hoje é ainda é terça-feira, dia de muito sol e calor,
deixo com vocês o poema Desesperança,
que, apesar de triste, é lindo de doer.
Desesperança
Manuel Bandeira
Esta
manhã tem a tristeza de um crepúsculo.
Como
dói um pesar em cada pensamento!
Ah, que
penosa lassidão em cada músculo...
O
silêncio é tão largo, é tão longo, é tão lento
Que dá
medo... O ar, parado, incomoda, angustia...
Dir-se-ia
que anda no ar um mau pressentimnto.
Assim
deverá ser a natureza um dia,
Quando
a vida acabar e, astro apagado, a Terra
Rodar
sobre si mesma estéril e vazia.
O
demônio sutil das nevroses enterra
A sua
agulha de aço em meu crânio doído.
Ouço a
morte chamar-me e esse apelo me aterra...
Minha
respiração se faz como um gemido.
Já não
entendo a vida, e se mais a aprofundo,
Mais a
descompreendo e não lhe acho sentido.
Por
onde alongue o meu olhar de moribundo,
Tudo a
meus olhos toma um doloroso aspecto:
E erro
assim repelido e estrangeiro no mundo.
Vejo
nele a feição fria de um desafeto.
Temo a
monotonia e apreendo a mudança.
Sinto
que minha vida é sem fim, sem objeto...
- Ah,
como dói viver quando falta a esperança!
Teresópolis,
1912.
Perfeito.