Poucas coisas são tão valiosas quanto viajar. A possibilidade de sair um pouco da rotina, do seu próprio centro e descobrir o universo do outro é um verdadeiro exercício de autoconhecimento. Hoje recebemos na faculdade o simpaticíssimo e espontâneo professor Eduardo Vera-Cruz, professor de Direito da Universidade de Lisboa, angolano de nascimento, neto de brasileiros e pai satisfeito de nove (!) filhos. As palavras do professor me inspiraram a trazer um trechinho do livro de outro angolano, o escritor José Eduardo Agualusa, chamado Um Estranho em Goa, meio diário de viagem, meio romance. A imagem poética de um banho de mar noturno e luminoso é linda (como tudo que ele escreve).
“Assusta um pouco mergulhar nas águas noturnas, sentindo lodo debaixo dos pés, e vendo as luzes a dançar ao longe. Ao mesmo tempo sente-se ascender de toda aquela imensa massa líquida uma espécie de força pacificadora que, docemente, nos empurra para o abismo. Coloquei os óculos de mergulho, esvaziei os pulmões, e deixei-me afundar lentamente. Vi formar-se entre os meus dedos a ardência marítima, fenômeno a que no Brasil também se chama buxiqui, provocado pela existência na água de minúsculos protozoários de corpo luminescente. Estrelas desprendiam-se ao mais pequeno dos meus gestos, ficavam um pouco à deriva formando desenhos de luz, e depois dispersavam-se subiam, juntando-se à outra noite, ao outro rio, às nítidas constelações que flutuavam lá em cima- na eternidade”
Postar um comentário