Archive for outubro 2012

Colorindo o Brasil: Jean-Baptiste Debret

out
2012
24

No comments


Ontem falamos sobre o romance de Agualusa que tem o Brasil colonial como um dos destinos exóticos do aventureiro Fradique. O Brasil que conhecemos hoje, as referências simbólicas que compartilhamos, foi “construído” no século XIX através das artes. A vinda da corte portuguesa para o Brasil no começo do século XIX representou o nascimento da ideia de que era preciso “desenvolver a nação cultural do Brasil”, forjar uma identidade para a imensa colônia que ganhava importância no cenário europeu.
 

 
A empresa civilizatória empreendida pelos portugueses teve seu ápice com a organização de uma missão artística em 1816, que trouxe para o Brasil pintores, escultores, cientistas, músicos, enfim, uma infinidade de intelectuais dedicados a captar a alma da colônia, seus ares, suas cores e sons. Até mesmo a literatura se engajou no projeto, encontrando um lugar no indigenismo de José de Alencar e Gonçalves Dias, que exaltavam a alma boa do índio brasileiro e o som doce e cativante dos sabiás. A figura de Jean-Baptiste Debret merece destaque nesse contexto. O pintor francês é o responsável pela criação de uma obra vastíssima de aquarelas, gravuras, pinturas, nas quais ficou materializada a vida cotidiana, a moda, os hábitos e a dinâmica urbana e rural do Brasil colonial. Grande observador dos costumes, Debret teve um cuidado especial em recriar as vestimentas, em retratar cenas das ruas, da gente simples da província. Uma aula de história que encanta os nossos olhos.


 

A editora Sextante publicou uma edição especial do Caderno de Viagem de Debret, com organização e texto de Julio Bandeira. Uma obra que vale a pena ter na estante!
 
 

Amores Orientais: O Amante de Duras

out
2012
24

on

No comments


 
Imagine o exotismo do Vietnã, os sons, os cheiros, a natureza selvagem. A sua paisagem úmida e empobrecida é o pano de fundo para O Amante, célebre obra da escritora francesa Marguerite Duras. Na história, romance com traços autobiográficos, é apresentado o estranho vínculo amoroso e sexual nascido entre a narradora, adolescente francesa radicada na colônia da Indochina, e um rico herdeiro chinês, que, apesar de perdidamente apaixonado, não vê qualquer possibilidade de assumir publicamente o romance com a moça branca. A acidez e a desesperança estão presentes nas palavras de Duras, o que torna a história tão crível (e tão triste). O enredo foi adaptado para o cinema, sob a direção de Jean-Jacques Annaud. Um romance para viajar para bem longe...
 

 

Ainda íamos todos os dias à garçonnière de Cholen. Ele fazia como sempre, durante algum tempo continuou a fazer como sempre, me lavava com a água das jarras e me levava para a cama. Vinha ao meu lado, também se estendia, mas tinha ficado sem força nenhuma, sem potência nenhuma. Marcada a data da partida, mesmo ainda distante, ele não conseguia fazer mais nada com meu corpo. Acontecera abruptamente, À sua revelia. Seu corpo não queria mais a menina que ia partir, trair. Ele dizia: não posso mais te tomar; achava que ainda podia, mas não posso mais.”

 

 

 

 

Nas Raízes do Brasil: A Nação Crioula de Agualusa

out
2012
24

on

No comments


Algumas obras são tão magistralmente escritas que são capazes de nos transportar para outro tempo, outra vida, outro lugar. Nesses momentos de leitura, simplesmente não é possível largar o livro até que a história tenha  chegado a um fim, e o protagonista possa, enfim, descansar. A obra Nação Crioula do escritor angolano José Eduardo Agualusa é um desses romances que vale a pena conhecer. Na história, temos a figura de Fradique, um aventureiro do século XIX que chega a Angola em um navio de expedição. O romance retrata as aventuras de Fradique, sua luta contra a escravatura, o romance com a ex-escrava Ana Olímpia, educada pelos melhores tutores da França, conhecedora da filosofia alemã e da literatura francesa, a relação de lealdade com o mítico Arcénio do Capo. Apesar de se tratar de um romance epistolar, a linearidade da narrativa torna a história dinâmica, vívida, interessante. Publicado pela editora Língua Geral e recomendadíssimo!


 

Quando me perguntaste, respirando exausta o mesmo ar que eu – e agora? -, não soube o que responder. Três meses mais tarde ainda não conheço a resposta. Fui nómada a vida inteira. Atravessei metade do mundo, desde Chicago até à Palestina, desde a Islândia até ao Saara, e nunca soube que nome dar a essa errância aflita. Hoje sei que estava à tua procura. Sei que és o meu destino, a minha pátria, a minha igreja. Sei que ao deixar Luanda fez-se dezembro e que desde então o inverno ronda como um lobo esfomeado à minha volta.”

A Farsa de Nelson: Viúva, porém Honesta

out
2012
22

on

No comments


Este blog adora ler teatro e, em especial, as comédias. Então, aproveitando o ensejo da segunda-feira, trazemos a dica da peça Viúva, porém honesta do pernambucano Nelson Rodrigues. A obra, cuja primeira montagem aconteceu em 1957, é definida como uma farsa, um “passatempo” cômico onde nada deve ser levado a sério, inclusive os personagens. É, no dizer de Flávio Aguiar, um deboche que expõe uma dura crítica à falsa moralidade da burguesia brasileira. Na história, Ivonete, que acaba de ficar viúva, recusa-se a sentar, em respeito ao marido morto. O pai de Ivonete, dono de um jornal importante no Rio de Janeiro, resolve convocar um “time de especialistas” para resolver o problema da filha.  O texto, publicado pela editora Nova Fronteira, é divertidíssimo e vale cada segundo dedicado à leitura.




"DIABO DA FONSECA: - Declaro-vos amantes, até segunda ordem. (Pardal roça os lábios na testa de Ivonete). Meus filhos, na união de um homem e de uma mulher, o que interessa não é a cama, não é o quarto, não é a sala, e sim o banheiro. “O banheiro”, disse eu e repito.

DR. J.B.: - Mais discurso, oh!

DIABO DA FONSECA: - Pergunto: qual o único cômodo metafísico da casa? O banheiro! Sim, meus caros amantes: o banheiro tem um trono, no uso do qual o homem vira um “Rei Lear”. E digo mais: o banheiro é tão importante que é nele que morre o amor.

PSICANALISTA: - Licença para um aparte?

DIABO DA FONSECA: - Com prazer.

PSICANALISTA: - O que V. Exª. está dizendo não é científico!

DIABO DA FONSECA: - Pode não ser científico, mas é batata! Eu disse que o amor morre no banheiro e provo. Quando um cônjuge bate na porta do banheiro e o outro responde lá de dentro: “Tem gente!”, não há amor que resista!"

Amantes Audaciosos: Patrick Bruel

out
2012
20

on

No comments


Amigos, um bom sábado para todos vocês! Vamos sonhar todos com uma soirée na primavera em Paris. ;)
 

Viagem de Compras: Bookstore Guide

out
2012
19

on

No comments

Dica bacana de um blog sobre os melhores lugares para comprar livros na Europa, chamado Bookstore Guide. Recomendo a leitura! Aqui o link.


Um jabuti que vem do Japão: Oscar Nakasato

out
2012
19

on

No comments


Esta semana o prêmio Jabuti divulgou os seus finalistas, e tivemos uma grata surpresa. O romance finalista da categoria melhor ficção já foi indicado aqui no blog, neste post. Trata-se da obra Nihonjin, de Oscar Nakasato, publicado pela editora Benvirá (selo da Saraiva). Renovamos nossa indicação de leitura, pois se trata de uma linda história para refletir sobre a imigração japonesa ao Brasil, conflitos identitários e igualdade racial.
 

 

Como boa parte dos leitores do blog também são alunos da faculdade, fico feliz em divulgar que o livro do colega professor Antônio Jorge Pereira, Direitos da Criança e do Adolescente em face da TV, foi o vencedor na categoria Direito.

 

 Um boa sexta pra vocês, amigos!

 

Fonte: http://www.premiojabuti.com.br/resultado-fase-vencedores-2012

Amores Incomunicáveis: Manuel Bandeira

out
2012
18

on

No comments


Um poema sobre o amor, porque ainda é quinta-feira.
 

 
Arte de amar

Manuel Bandeira


Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus — ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

Em Londres, como os londrinos...

out
2012
09

on

No comments


Para os amigos que, como eu, estão por aí perdidos na imensidão vazia da noite de uma terça-feira completamente sem sentido, deixo as palavras leves do Campos de Carvalho, retiradas da obra Cartas de Viagem e outras Crônicas. Essas cartas me fazem rir muitíssimo porque são a exata impressão que um brasileiro tem de Londres (e dos londrinos). Beijo em todos.





O londrino, tirante os teen-agers, que não têm graça nenhuma, é em geral engraçadíssimo. Apieda-se pelo fato de você não ter agasalho próprio para o frio glacial que está fazendo. Perto dos franceses, são educadíssimos (o que não é nenhuma vantagem), mas também ignoram a sua existência, a menos que você se ponha a gritar no meio da rua Help! Help! – o que estou sempre fazendo. As mulheres são bonitas, surpreendentemente bonitas, mas todas iguais; já os homens não me agradam, e espero que lhes agrade ainda muito menos. Até os cachorros ingleses fumam cachimbo e trazem o olhar perdido no horizonte; educadíssimos: ainda não vi um cachorro sequer olhando para um poste”

Banho de Estrelas na Noite: Agualusa em Goa

out
2012
08

on

No comments

Poucas coisas são tão valiosas quanto viajar. A possibilidade de sair um pouco da rotina, do seu próprio centro e descobrir o universo do outro é um verdadeiro exercício de autoconhecimento. Hoje recebemos na faculdade o simpaticíssimo e espontâneo professor Eduardo Vera-Cruz, professor de Direito da Universidade de Lisboa, angolano de nascimento, neto de brasileiros e pai satisfeito de nove (!) filhos. As palavras do professor me inspiraram a trazer um trechinho do livro de outro angolano, o escritor José Eduardo Agualusa, chamado Um Estranho em Goa, meio diário de viagem, meio romance. A imagem poética de um banho de mar noturno e luminoso é linda (como tudo que ele escreve).


“Assusta um pouco mergulhar nas águas noturnas, sentindo lodo debaixo dos pés, e vendo as luzes a dançar ao longe. Ao mesmo tempo sente-se ascender de toda aquela imensa massa líquida uma espécie de força pacificadora que, docemente, nos empurra para o abismo. Coloquei os óculos de mergulho, esvaziei os pulmões, e deixei-me afundar lentamente. Vi formar-se entre os meus dedos a ardência marítima, fenômeno a que no Brasil também se chama buxiqui, provocado pela existência na água de minúsculos protozoários de corpo luminescente. Estrelas desprendiam-se ao mais pequeno dos meus gestos, ficavam um pouco à deriva formando desenhos de luz, e depois dispersavam-se subiam, juntando-se à outra noite, ao outro rio, às nítidas constelações que flutuavam lá em cima- na eternidade”

Para que serve o amor?

out
2012
05

on

No comments

L’amour, ça sert à quoi?  Para que serve o amor? Para deixar a vida com gosto. Boa sexta-feira a todos, com a animaçãozinha linda, a canção é de Edith Piaf e Theo Sarapo.


Sertanias: Araquém Alcântara

out
2012
04

on

No comments


Uma linda fotografia do brasileiro Araquém Alcântara para quem já sonhou em cavalgar rápido rumo a lugar nenhum, só para sentir o vento batendo no rosto e o coração aos pulos. Boa quinta-feira, amigos!
 

A Palavra Mágica de Livia Garcia-Roza

out
2012
02

on

2 comments


O romance A Palavra que veio do Sul da escritora Livia Garcia-Roza tem como tema a turbulenta passagem da infância para a adolescência de Helena Maria. A personagem vive no abismo provocado pelo divórcio dos pais: filha de uma mãe astróloga, emocionalmente frágil e ingênua, e de um pai agressivo e indiferente, casado com uma mulher má, Helena Maria encontra o conforto afetivo na figura do “seu” Wanderley, cliente de sua mãe que nutre uma paixonite platônica pela astróloga. O cotidiano das duas casas, a observação minuciosa da narradora-personagem, a ironia fina com que Helena Maria avalia os comportamentos da madrasta Miriam, as primeiras descobertas da adolescência, tudo faz da leitura do livro uma delícia.



“Quando cheguei em casa contei para mamãe o que eu tinha visto. Nenhum dos dois vai se salvar! Seu pai é um quadrúpede! Um asno! E tem mais, está com Plutão, que é violento, em quadratura com o Sol dele, já deve estar sentindo os efeitos, quando estiver no grau exato então...Você vai ver o que vai acontecer naquela casa! Dentro em breve quem vai processá-lo sou eu!”



Infância uruguaia: A Borra de Café

out
2012
01

on

No comments


O escritor uruguaio Mario Benedetti já esteve no blog antes e é um dos nossos autores favoritos. Seja por sua escrita leve, muito verdadeira e limpa, seja pela nostalgia melancólica que permeia suas palavras, Benedetti é um autor que merece ser descoberto. Hoje trago a dica do livro A Borra de Café, publicado em português pela editora Alfaguara. No livro, temos as memórias da infância e da juventude de Claudio, alterego de Benedetti. Uma boa segunda-feira para vocês!
 

 

“Foi a partir dessa escolha que minha relação com Mariana mudou. Coincidentemente, minha ausência de vários dias a fizera concentrar-se em si mesma e medir-se e medir-me. E decidir apostar em nós. Dois ex-namorados ficaram para trás. Disse-me isso sem chorar, com seus olhos escuros bem abertos. De modo que quando voltei para ela, e também lhe narrei quanto Rita havia pesado em minhas vacilações (Até então, eu nunca a mencionara a Mariana) e lhe disse que ficaria definitivamente com ela, o fato de termos escolhido, ela a mim, eu a ela, cada um por conta própria e em liberdade, significou um pacto espontâneo, sem papéis nem testemunhas, e quando por fim nos abraçamos, pela primeira vez mais aquém e mais além do tango que nos havia juntado, sabíamos que isso ia ser perdurável, isto é, tão perdurável quanto o transitório admite.”