Hoje
trago um pouco da prosa muito sofisticada de Orígenes Lessa, escritor pouco
difundido e pouco publicado para a qualidade literária que deixou em seus
textos. Nascido em 1903, Lessa escreveu, entre outras obras, a novela Beco da Fome, que retrata o cotidiano de
uma prostituta na noite carioca, reeditada recentemente pela editora
Desiderata, na coleção Biblioteca Brasileira. Deixo-os com um pouquinho da voz
sofrida de Sueli/Isaura.
“Não pense que eu tou querendo tirar onda
de santa. Quero não. Desde cedo eu vi que não era, não ia ser e tinha raiva de
quem era. Cama é bom. Mas bom quando é pela cama que a gente se deita com um
cara que a gente gosta e aí vale tudo. Tenho uma saudade desse tempo que você
não imagina. Quando hoje eu vejo um cara nu, em pé de guerra, moço, forte, bem
bolado, às vezes um bacanaço de praia... – cê pensa que eu fico de fogo? É
muito raro...Eu fico é triste. Tenho saudade do tempo em que eu olhava a mala
de um magrinho de subúrbio e ficava doida pra pegar. Não tinha era coragem. Eu
namorava à toa, à toa. Queria era encostar. Me fazia de besta, fingia não ser
por maldade.” (LESSA, Orígenes. Beco da
Fome. Desiderata, 2008, pg. 15)
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