Archive for setembro 2012

Corpo Poético: Pablo Neruda

set
2012
27

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Hoje trago um poema do Pablo Neruda para nos aquietar os corações.  O desenho é de Henri-Cartier Bresson. Bom restinho de semana pra vocês!
 

 

Pablo Neruda

 

Corpo de mulher, brancas colinas, coxas
[brancas,
pareces-te com o mundo na tua atitude de
[entrega.
O meu corpo de lavrador selvagem escava em ti
e faz saltar o filho do mais fundo da terra.

Fui só como um túnel. De mim fugiam os
[pássaros,
e em mim a noite forçava a sua invasão
[poderosa.
Para sobreviver forjei-te como uma arma,
como uma flecha no meu arco, como uma pedra
na minha funda.

Mas desce a hora da vingança, e eu amo-te.
Corpo de pele, de musgo, de leite ávido e firme.
Ah os copos do peito! Ah os olhos de ausência!
Ah as rosas do púbis! Ah a tua voz lenta e
[triste!

Corpo de mulher minha, persistirei na tua graça.
Minha sede, minha ânsia sem limite, meu
[caminho indeciso!
Escuros regos onde a sede eterna continua,
e a fadiga continua, e a dor infinita.


Amor de Sexta-Feira

set
2012
21

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Amigos, hoje vou terminar o dia me sentindo tranquila, bonita e (pasmem!) até feliz. Então, vamos comemorar, e nada de literatura! Deixo mesmo a voz magífica da Florence Welsh, porque é difícil não se derreter por esse lirismo. Bom final de semana! :)


Divertido, fácil e rápido

set
2012
20

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No dia 22 de setembro, ao que parece, será celebrado o dia mundial sem carro. Organizações da sociedade civil iniciaram exortações para que as pessoas não usem o carro como meio de transporte no sábado, preferindo alternativas como o transporte coletivo ou a bicicleta, que nos últimos tempos tem sido transformada em altar dos ecologicamente corretos, como se a salvação da humanidade dependesse da vida sobre duas rodas. O que me levou a escrever este post foi um banner que tem circulado no facebook, com os seguintes dizeres: “ajudar o planeta é divertido, fácil e rápido”. 





Acho que essa frase diz muita coisa sobre ser jovem hoje: a vida precisa ser divertida, fácil e rápida. Não há espaço para a gravidade na vida do jovem, tudo, até mesmo o momento do culto religioso, precisa ser feliz, ruidoso, um momento de prazer e deleite. Nem se fale sobre a dificuldade e a demora: se não está à mão, se não puder ser digerido em minutos ao toque na tela touchscreen, é descartável, é desnecessário, é antiquado. É a geração “multifuncional”: tudo ao mesmo tempo, de qualquer jeito, para qualquer coisa.


Essa observação não tem a pretensão de ser antipática: eu mesmo cresci na internet e não consigo imaginar como seria a vida desconectada. Tampouco sou do time dos que acham que a vida tem que ser um mar de lágrimas: não passo um final de semana sem estar junto dos amigos, nunca consegui virar a noite estudando e preservo meu tempo de lazer com unhas e dentes! Acho mesmo que, de vez em quando, o dolce far niente tem o seu valor. Mas é preciso reconhecer que as grandes conquistas chegam depois de dedicação, de trabalho, de concentração e com força de vontade, que a vida não é – e nem deve ser – apenas lazer. Quando a gente cresce, fica insustentável e vazio viver com slogan do “divertido, fácil e rápido”.


Tornar o jovem mais reflexivo, mais concentrado e mais comprometido, isso sim, me parece, ajudaria a salvar o planeta!

Felinos Orientais: O Gato do Rabino

set
2012
18

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Essa dica é para os que gostam de animação: o filme O Gato do Rabino (Le Chat du Rabin). A história se define como um conto oriental, excelente para quem quer refletir de forma lúdica sobre tolerância religiosa e diversidade cultural. Na história,  que se passa em Alger, o gato do rabino Sfar come o papagaio e começa a falar. Crítico, cético e muito irônico, o gato vai colocar em cheque as crenças do Rabino Sfar e do muçulmano Mohammed (que encarna a figura do sábio lúcido e ponderado) e partirá numa viagem de descoberta da África em busca da cidade luz dos judeus na Etiópia, onde não há perseguição e os israelitas têm a pele negra. Um lindo filme animado que nos faz fugir um pouco do estilo de animação americano. Uma dica: vale a pena assistir o filme legendado, porque a dublagem para o português é simplesmente péssima.
  





Aqui deixo a canção linda, baseada na prece do gato enamorado e ciumento: que Zlabya não se case jamais e que nunca tenha filhos! Qu’elle ne se marie pas, qu’elle n’ait jamais d’enfants!

Orígenes Lessa despudorado

set
2012
17

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Hoje trago um pouco da prosa muito sofisticada de Orígenes Lessa, escritor pouco difundido e pouco publicado para a qualidade literária que deixou em seus textos. Nascido em 1903, Lessa escreveu, entre outras obras, a novela Beco da Fome, que retrata o cotidiano de uma prostituta na noite carioca, reeditada recentemente pela editora Desiderata, na coleção Biblioteca Brasileira. Deixo-os com um pouquinho da voz sofrida de Sueli/Isaura.
 

 

“Não pense que eu tou querendo tirar onda de santa. Quero não. Desde cedo eu vi que não era, não ia ser e tinha raiva de quem era. Cama é bom. Mas bom quando é pela cama que a gente se deita com um cara que a gente gosta e aí vale tudo. Tenho uma saudade desse tempo que você não imagina. Quando hoje eu vejo um cara nu, em pé de guerra, moço, forte, bem bolado, às vezes um bacanaço de praia... – cê pensa que eu fico de fogo? É muito raro...Eu fico é triste. Tenho saudade do tempo em que eu olhava a mala de um magrinho de subúrbio e ficava doida pra pegar. Não tinha era coragem. Eu namorava à toa, à toa. Queria era encostar. Me fazia de besta, fingia não ser por maldade.” (LESSA, Orígenes. Beco da Fome. Desiderata, 2008, pg. 15)

A Vida de Outra Mulher: Magnífica Binoche

set
2012
14

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Quem não precisa assistir a uma comédia romântica de vez em quando para açucarar a vida? Estou aqui para recomendar o filme de Sylvie Testud, produzido em 2011 e estrelado pela magnífica Juliette Binoche, chamado A Vida de Outra Mulher. A história começa quando Marie é contratada para trabalhar com o sr. Speranski, presidente de uma grande empresa. No mesmo dia, Marie comemora seu aniversário e conhece Paul, filho de seu futuro patrão, por quem se apaixona. O que vem depois? Nada tão inovador, mas sempre interessante: uma amnésia inexplicável. Marie, que foi dormir com 25, acorda aos 41, casada com Paul, super executiva riquíssima, mãe de Adam e dona de uma fama nada boa. Marie acaba descobrindo que se transformou numa mulher amarga, temida por todos e que está à beira do divórcio. Claro que nós vamos acompanhar o processo de reconquista, a redescoberta do amor, o encontro de Marie com o filho. O humor está presente em toda a trama, o que torna o filme leve e bom para um sábado à tarde!



Violência Urbana: O massacre de Cony

set
2012
14

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Ontem dei um pulinho na Livraria da Vila para garimpar novas leituras e acabei encontrando uma publicação do Carlos Heitor Cony que ainda não tinha lido. O romance  A Noite do Massacre foi escrito para o cinema, sob encomenda, em 1975, sendo transformado em roteiro sob o nome de Paranoia. O enredo retrata uma noite na mansão de Marcelo  Caseli, um rico empresário de São Paulo que tem sua casa invadida por um grupo de assaltantes, liderado por João, um criminoso bem educado que se orgulha de praticar crimes sem violência, “limpos”. A família é feita refém, assim como os vizinhos e os empregados e, como se espera, o que deveria ser um assalto rápido e sem sangue se transforma num verdadeiro pesadelo. A narrativa é absolutamente eletrizante – comecei a ler ontem e só consegui dormir depois de terminar, algumas horas depois. Mais um motivo para adorar o Cony. Bom fim de semana!

 

“João Sereno foi o último a chegar. Aprendera o macete há tempos: o chefe nunca podia facilitar. Qualquer reunião do grupo podia estar furada, infiltrada. A polícia às vezes pegava um dos homens, soltava-o como isca, o camarada não podia avisar, todos se reuniam – e entravam pelo cano. Bem verdade que não tinha muito a temer. O bando era pequeno, três homens apenas, e tudo de confiança. Desde que trabalham para ele, abandonaram os biscates, os trabalhos avulsos e pessoais, que podiam dar sopa para a polícia. Só agiam em conjunto, e sob suas ordens. Fora disso, eram cidadãos comuns, respeitadores da lei, amantes da ordem

A Leveza do Cinema: Intocáveis

set
2012
11

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Acabo de chegar em casa depois de um dia bastante cansativo de pesquisas na biblioteca na universidade aqui em São Paulo. Um sobe e desce tremendo porque – pasmem – a administração da faculdade resolveu disponibilizar o acervo em um prédio com vários andares e sem elevadores. Uma boa piada para os que dizem que trabalhar na docência e na pesquisa não exige suor! O que importa por hoje é que resolvi escrever, apesar do cansaço, porque terminei o dia vendo um filme maravilhoso e gostaria muito de compartilhar meu encantamento com vocês. O filme se chama Os Intocáveis, francês, dirigido por Olivier Nakache e Eric Toledano. O filme, ganhador de inúmeros prêmios, foi produzido em 2011, tendo Osmar Sy no papel de Driss, um imigrante senegalês que é contratado para ser cuidador de Phillipe, um especialista em música clássica, tetraplégico e extremamente rico.


 

O filme tem tudo para ser uma sucessão de clichês e um peso emocional, mas é o oposto disso.  Justamente por fugir da figura do deficiente debilitado e emocionalmente frágil, Phillipe nos seduz com seu charme aristocrático e sua autoridade. Driss, inteligentíssimo e perspicaz, é um imigrante marginalizado cheio de arroubos de violência e irritação que tornam a relação com Phillipe humana e crível. Apesar de seu temperamento explosivo, Driss desenvolve uma relação de confiança e cuidado com Phillipe bastante tocante. O senso de humor e a completa transformação da rotina de Phillipe pela chegada de Driss tornam o filme imperdível. E acreditem, é daqueles filmes de sair do cinema acreditando na leveza da vida!

Colorido de Domingo: Georgia O'Keefe

set
2012
09

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As cores de Georgia O’Keefe desejam a todos um excelente domingo e um bom começo de semana!