Alguns amigos que gostam de literatura preferem dedicar seu tempo de leitura aos clássicos, obras de autores consagrados, que refletem grandes conflitos, tempos passados, valores tradicionais. É o caso de autores como Machado de Assis, James Joyce, Fiódor Dostoiévski, entre tantos outros. Eu confesso que tenho uma grande predileção pela literatura não tão conhecida, a que é feita hoje, ou há poucas décadas, em países exóticos, e que retratam realidades e conflitos inexistentes no meu cotidiano.
Uma das boas surpresas ao buscar os autores menos conhecidos foi deparar com José Eduardo Agualusa, autor angolano nascido em 1960 e que já escreveu obras como Barroco Tropical e Estação das Chuvas. Agualusa escreve uma prosa muito suave, intimista apesar da contextualização social atenta, quase lírica. Um deleite. Minha última leitura foi o seu romance O Vendedor de Passados. Na história, Félix Ventura, um negro albino, leva a vida a inventar o passado para políticos, perseguidos, fugitivos. Pessoas que simplesmente querem renascer, refazer sua história pessoal. É curioso como as invenções de Félix são a tal ponto verossímeis que os personagens se veem envolvidos com suas novas histórias, acreditando que são descendentes daquele barão brasileiro, ou daquela atriz de Hollywood radicada na África. Uma grande leitura. Recomendo a todos que busquem conhecer o Agualusa, um autor jovem, que escreve em português, com cores que lembram muito as nossas próprias origens.
Já já posto um trecho da história de Félix.
Gostei do enredo de "O vendedor de passados", Julie. Parece bem interessante mesmo.
Fico pensando que passado eu gostaria de ter, se pudesse "encomendar" um para mim.
;D
O melhor na história, Raul, é que o "cliente" tem que esperar pelo passado que o Félix vai criar, ao fazer recortes com pessoas reais, relacionamentos amorosos fantasiados, impossíveis, e que, ao final, acabam por fazer algum sentido. Os pontos mais interessantes da narrativa é justamente o encontro do cliente com o seu novo passado. A descoberta. ;)