Sexta-feira com clima de terça. Hoje acordei antes da hora, os cinco minutinhos viraram vinte. O pé roçando na beirada da cama, sentindo a textura do lençol, do cobertor, a respiração profunda e pausada. O ruído do ar condicionado confundindo-se com o alarido dos carros na rua – os pássaros dos tempos de hoje. Ainda há trabalho a fazer, reuniões a conduzir, aulas para dar. E, em meio a toda essa confusão de agendas, ideias, compromissos, pendências, eis que me surge um súbito desejo de uma orquídea fresca. Um retrato vivo de beleza. Porque a alma está cansada, mas os olhos, não. E nesses momentos, em que o melhor é calar, recolher, evitar o contato - ainda que literário - o que nos resta é concentrar na beleza viva do silêncio. No aprendizado do contemplar.
Nas últimas semanas, tenho dedicado pouco tempo - por absoluta falta de energia mental - à literatura. Mas vou tentando retomar, aos poucos. Há períodos da vida que os nossos próprios conflitos e angústias são volumosos demais para que entremos na vida dos personagens. É como estar no palco de um teatro, representar um papel, e precisar sentir nas entranhas todo o turbilhão de sentimentos da história alheia.
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