Escolhi o trecho abaixo da obra O Vendedor de Passados, de José Eduardo Agualusa, publicada pela editora Gryphus, em 2011, segunda edição, página 75. Uma boa análise sobre o papel do escritor.
“ – Nos seus romances você mente propositadamente ou por ignorância?
Houve risos. Um murmúrio de aprovação. O escritor hesitou três segundos. Depois contra-atacou:
- Sou mentiroso por vocação -, bradou: - Minto com a alegria. A literatura é a maneira que um verdadeiro mentiroso tem para se fazer aceitar socialmente.
Acrescentou a seguir, já mais sóbrio, baixando a voz, que a grande diferença entre as ditaduras e as democracias está em que no primeiro sistema existe apenas uma verdade, a verdade imposta pelo poder, ao passo que nos países livres cada pessoa tem o direito de defender a sua própria versão dos acontecimentos. A verdade, disse, é uma superstição. A ele, Félix, impressionou-o esta ideia.
- Acho que aquilo que faço é uma forma avançada de literatura -, confidenciou-me. – Também eu crio enredos, invento personagens, mas em vez de os deixar presos dentro de um livro dou-lhes vida, atiro-os para a realidade."
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