A
crônica “Anúncio de Casa”, do escritor Fernando Sabino, me fez lembrar de minha amiga
Mariana, que tem um gosto todo especial pelas marcas do tempo. Boa quinta-feira
a todos vocês!
“Procura-se casa para alugar ou comprar, com
três quartos, duas salas, banheiro, cozinha, quarto de empregada, demais dependências,
poder de sugestão, varanda e quintal.
Por poder de sugestão, entenda-se aquele
misterioso dom que certas casas têm de sugerir a vida dos que já moraram nela.
Não pelas manchas e estragos que lhe deixaram antigos moradores, mas exatamente
pelas marcas invisíveis que suas paredes recolheram e o tempo fixou.
Essas marcas devem nascer do soalho sob as
passadas do morador, correr ao longo das tábuas do teto aos olhos insones que
nele se distraem, participar dos próprios ruídos que ajudam a adormecer: o da
água caindo na caixa, os talidos de madeira no escuro, o rincho de uma porta ou
dos degraus da escada; devem efluir dos trincos e maçanetas, da sombra na
parede, terror de uma infância, do vento que infla a cortina. Devem, enfim,
impregnar cada canto da casa, estas marcas de tradição que ela carrega em seu
bojo como uma carga de navio, a que vai se juntar a do novo morador, dando-lhe
novo espírito, e finalmente a absorve” (SABINO,Fernando. Anúncio de Casa, in No fim dá certo, Record, 2007, pg. 134)
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