Archive for fevereiro 2013

Samba do Juca

fev
2013
08

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Vamos começar nossa programação carnavalesca com uma música do Chico Buarque. Afinal, amar é crime e sambar é pecado? Bom carnaval, amigos!


Amor perfumado e musical: Manoel de Barros

fev
2013
05

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Gorjeios
Manoel de Barros

Gorjeio é mais bonito do que canto porque nele se
inclui a sedução.
É quando a pássara está namorada que ela gorjeia.
Ela se enfeita e bota novos meneios na voz.
Seria como perfumar-se a moça para ver o namorado.
É por isso que as árvores ficam loucas se estão gorjeadas.
É por isso que as árvores deliram.
Sob o efeito da sedução da pássara as árvores deliram.
E se orgulham de terem sido escolhidas para o concerto.
As flores dessas árvores depois nascerão mais perfumadas.

A Ilusão do Tempo

fev
2013
04

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Mês após mês, no ano de 2012, eu alimentei a fantasia de que haveria uma vida após depósito da tese. Um mundo de possibilidades se abriria: o tempo, elástico, seria bastante para cuidar do corpo, da cabeça, para dormir mais e passar mais tempo com os amigos. Eu poderia usar o tempo fora do trabalho com qualquer coisa que não fosse trabalho. Um tempo livre. Ouvir música, fazer yoga, ajustar aquela pia do banheiro que precisa de um reparo, cuidar da reforma do gesso do teto, enfim, a vida-nossa-de-cada-dia, “sem mistificações”. Um tempo para mim. Essa ilusão não resistiu aos primeiros dias depois que eu consegui, finalmente, colocar um ponto final no texto, imprimir e entregar na universidade o filho pronto – cheio de imperfeições, jogado à hostilidade da vida fora do gabinete. A sensação de urgência está aqui, minuto após minuto. Seja como ideia – uma impressão de que o tempo está passando, o relógio é implacável, a vida não pode ser perdida – seja como realidade, o trabalho em si mesmo, a ida ao banco, os imprevistos, o supermercado por fazer, as oportunidades profissionais que a vida joga no seu colo e você não pode, simplesmente, ignorar – especialmente quando se tem vinte e poucos anos.




A libertação do relógio é um processo que só pode ser vivido intimamente – não depende de um depósito, de um dia no calendário, de uma confirmação do outro. É um estado mental. O estado de quem se permite, simplesmente, desacelerar. Estou ensaiando um grande passo, um passo íntimo, mas fundamental: desabilitar a opção do celular que permite a sincronização com a conta de e-mails em tempo real. Quando eu conseguir conviver com a ideia de que os e-mails estão chegando, as pessoas estão me procurando, os problemas continuam a existir e, não obstante, aquele intervalo entre as três e as quatro da tarde é meu e somente meu – inclusive para vivê-lo em silêncio – creio que eu estarei, finalmente, liberta.

A solidão e a arte: uma visita ao museu

fev
2013
01

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Todos nós podemos conhecer, através de livros e da internet, representações dos quadros de Van Gogh, saber quais são as formas da Vênus de Milo e desvendar os mistérios simbólicos das telas de Rembrandt. Apesar de se poder conhecer a representação, nada se compara à experiência sensorial de observar a obra de perto: a tela de Van Gogh, por exemplo, é pura luz – emana uma combinação de cores vibrantes e dançantes que parecem ter vida própria. É a glória da beleza que se manifesta em sua forma mais concreta: uma tela coberta por pinceladas de tintas. Recentemente pude observar no MASP uma obra de holandês Veermer, chamada “Mulher lendo uma carta”, que passou por um processo de restauração minucioso. O monitor mais moderno não é capaz de reproduzir aquele tom de azul da roupa da personagem, construído pelo pintor a partir de experimentações que remontam a séculos e séculos de tradição.




No vídeo abaixo, chamado A Path of Beauty, acompanhamos a experiência de visita ao museu do Louvre. Não uma simples visita: o museu está completamente vazio. Fico imaginando o que seria ter um museu dessa magnitude só para si – só quem já se acotovelou nas salas do Impressionismo no Museu D’Orsay sabe como é angustiante querer perceber cada detalhe da pintura tendo várias pessoas em volta, falando, em movimento, distraindo a sua atenção. Não nos custa sonhar com o imenso luxo de se ter a solidão para apreciar a arte. Acho que vale conferir o videozinho. Bom fim de semana!