A Espuma dos Dias

jul
2013
24

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Na minha última viagem a São Paulo tive a chance de assistir ao novo filme de Michel Gondry, chamado “A Espuma dos Dias”. A história é uma adaptação do romance homônimo de Boris Vian e retrata a história de Colin e Chloé. A atmosfera surrealista incomoda um pouco no começo, mas depois de alguns minutos você já se sente parte do universo particular e colorido dos personagens. Decidido a se apaixonar, Colin conhece Chloé com a ajuda dos amigos, quando tem início um romance adorável. Tudo vai muito bem até que todos descobrem que Chloé tem uma doença grave e rara: um nenúfar que cresce em seu pulmão. Linda história, tocante, que nos remete a um universo fantástico onde cores, sons e sentimentos atingem outra dimensão. Não pude deixar de me solidarizar com Chick, que desenvolve uma dependência da filosofia existencialista de “Jean-Sol Partre”. Deixo os dois trailers, o feito para o Brasil e o francês, pois considero o francês bem mais poético em sua montagem.

P.S. Li dois capítulos do romance de Boris Vian – que cria impossível de compreender dada a fantasia da história – mas a obra literária consegue ser ainda melhor que o filme. Vale a pena. Publicada no Brasil pela Cosac e Naify.

Antes ventura que aventura: Vinícius

jul
2013
23

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Soneto de Aniversário
Vinícius de Moraes

Passem-se dias, horas, meses, anos
Amadureçam as ilusões da vida
Prossiga ela sempre dividida
Entre compensações e desenganos.

Faça-se a carne mais envilecida
Diminuam os bens, cresçam os danos
Vença o ideal de andar caminhos planos
Melhor que levar tudo de vencida.

Queira-se antes ventura que aventura
À medida que a têmpora embranquece
E fica tenra a fibra que era dura.

E eu te direi: amiga minha, esquece...
Que grande é este amor meu de criatura
Que vê envelhecer e não envelhece.

(Rio, 1942)

Música de dia chuvoso: Kings of Convenience

abr
2013
30

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Um showzinho de uma das minhas bandas preferidas, Kings of Convenience, em Paris, para deixar tocando como música de fundo nos dias de trabalho repetitivo.


Paris no fim do dia...

mar
2013
17

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Paris é a cidade Luz, celebrada por poetas e artistas como a capital da beleza, do amor e do encantamento. É uma festa permanente, dinâmica, “ambulante”, como diria Hemingway. Reduto da arte, a “república das letras”, Paris recebeu nas décadas de 20 e 30 do século XX centenas de filósofos, escritores, pintores interessados em viver a experiência parisiense. Deixo hoje um breve trecho de uma carta de Julio Cortázar, escrita em Paris, publicada no número 9 da revista literária Serrote.
 

 

Não pense que estou triste, Paris é tão bonita! Aqui até a tristeza vira uma atividade estética. De maneira que talvez eu esteja triste, mas estou aprendendo a depositar essa melancolia nas muitas coisas belas que me rodeiam. Gostaria de poder mostrar a você, por exemplo, um entardecer na pont du Carrousel. Eu estava vindo do Louvre com uma amiga e paramos para olhar a Notre-Dame, ao longe, em meio a uma bruma azul. Então, em menos de um minuto, aconteceu o milagre, a loucura absoluta. Os lampiões a gás se acenderam de repente, e a pedra dos parapeitos, por uma misteriosa mistura de ar e luz, ficou intensamente rosa. Nós a olhávamos, mudos. Então vimos que a proa da cité e os edifícios distantes tinham passado instantaneamente para um violeta profundo, e ao mesmo tempo o rio estava verde, um verde cheio de ouro. Eu fechei os olhos, desesperado ao perceber que aquilo não podia durar, que aquela coisa veneziana ia se degradar instantaneamente e se perder...Mas durou, dois ou três minutos, tempo suficiente para ver as primeiras estrelas subindo ao céu.

Samba do Juca

fev
2013
08

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Vamos começar nossa programação carnavalesca com uma música do Chico Buarque. Afinal, amar é crime e sambar é pecado? Bom carnaval, amigos!


Amor perfumado e musical: Manoel de Barros

fev
2013
05

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Gorjeios
Manoel de Barros

Gorjeio é mais bonito do que canto porque nele se
inclui a sedução.
É quando a pássara está namorada que ela gorjeia.
Ela se enfeita e bota novos meneios na voz.
Seria como perfumar-se a moça para ver o namorado.
É por isso que as árvores ficam loucas se estão gorjeadas.
É por isso que as árvores deliram.
Sob o efeito da sedução da pássara as árvores deliram.
E se orgulham de terem sido escolhidas para o concerto.
As flores dessas árvores depois nascerão mais perfumadas.

A Ilusão do Tempo

fev
2013
04

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Mês após mês, no ano de 2012, eu alimentei a fantasia de que haveria uma vida após depósito da tese. Um mundo de possibilidades se abriria: o tempo, elástico, seria bastante para cuidar do corpo, da cabeça, para dormir mais e passar mais tempo com os amigos. Eu poderia usar o tempo fora do trabalho com qualquer coisa que não fosse trabalho. Um tempo livre. Ouvir música, fazer yoga, ajustar aquela pia do banheiro que precisa de um reparo, cuidar da reforma do gesso do teto, enfim, a vida-nossa-de-cada-dia, “sem mistificações”. Um tempo para mim. Essa ilusão não resistiu aos primeiros dias depois que eu consegui, finalmente, colocar um ponto final no texto, imprimir e entregar na universidade o filho pronto – cheio de imperfeições, jogado à hostilidade da vida fora do gabinete. A sensação de urgência está aqui, minuto após minuto. Seja como ideia – uma impressão de que o tempo está passando, o relógio é implacável, a vida não pode ser perdida – seja como realidade, o trabalho em si mesmo, a ida ao banco, os imprevistos, o supermercado por fazer, as oportunidades profissionais que a vida joga no seu colo e você não pode, simplesmente, ignorar – especialmente quando se tem vinte e poucos anos.




A libertação do relógio é um processo que só pode ser vivido intimamente – não depende de um depósito, de um dia no calendário, de uma confirmação do outro. É um estado mental. O estado de quem se permite, simplesmente, desacelerar. Estou ensaiando um grande passo, um passo íntimo, mas fundamental: desabilitar a opção do celular que permite a sincronização com a conta de e-mails em tempo real. Quando eu conseguir conviver com a ideia de que os e-mails estão chegando, as pessoas estão me procurando, os problemas continuam a existir e, não obstante, aquele intervalo entre as três e as quatro da tarde é meu e somente meu – inclusive para vivê-lo em silêncio – creio que eu estarei, finalmente, liberta.