Paris no fim do dia...


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Paris é a cidade Luz, celebrada por poetas e artistas como a capital da beleza, do amor e do encantamento. É uma festa permanente, dinâmica, “ambulante”, como diria Hemingway. Reduto da arte, a “república das letras”, Paris recebeu nas décadas de 20 e 30 do século XX centenas de filósofos, escritores, pintores interessados em viver a experiência parisiense. Deixo hoje um breve trecho de uma carta de Julio Cortázar, escrita em Paris, publicada no número 9 da revista literária Serrote.
 

 

Não pense que estou triste, Paris é tão bonita! Aqui até a tristeza vira uma atividade estética. De maneira que talvez eu esteja triste, mas estou aprendendo a depositar essa melancolia nas muitas coisas belas que me rodeiam. Gostaria de poder mostrar a você, por exemplo, um entardecer na pont du Carrousel. Eu estava vindo do Louvre com uma amiga e paramos para olhar a Notre-Dame, ao longe, em meio a uma bruma azul. Então, em menos de um minuto, aconteceu o milagre, a loucura absoluta. Os lampiões a gás se acenderam de repente, e a pedra dos parapeitos, por uma misteriosa mistura de ar e luz, ficou intensamente rosa. Nós a olhávamos, mudos. Então vimos que a proa da cité e os edifícios distantes tinham passado instantaneamente para um violeta profundo, e ao mesmo tempo o rio estava verde, um verde cheio de ouro. Eu fechei os olhos, desesperado ao perceber que aquilo não podia durar, que aquela coisa veneziana ia se degradar instantaneamente e se perder...Mas durou, dois ou três minutos, tempo suficiente para ver as primeiras estrelas subindo ao céu.

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